O sapo enjoado narra a história de um sapo exigente e um pouco arrogante que reclamava de tudo e de todos ao seu redor, acreditando ser perfeito. Até que uma cobra — ainda mais enjoada — faz com que o sapo sinta o amargo gosto da rejeição. Esse choque o faz perceber que ele não é tão perfeito quanto pensava.
Neste roteiro, você encontra dicas e possibilidades para trabalhar essa obra com leitores a partir de quatro anos, com reflexões sobre como vemos a nós mesmos e aos outros, de modo a promover a valorização da diversidade.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
EI03EF07
Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e/ou de leitura.
EI03EO04
Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos.
EI03EO04
Na familiarização com o tema, faça um momento de diálogo com as crianças, introduzindo questões relacionadas à forma como enxergamos a nós mesmos e aos outros. Para isso, você pode iniciar com as seguintes perguntas:
• Vocês conhecem alguém que reclama de tudo? Como vocês se sentem perto dessa pessoa?
• E o que acontece quando alguém acha que está sempre certo ou que é perfeito?
• Aliás, vocês acham que existe alguém perfeito?
Nesse momento, ajude as crianças a identificar comportamentos parecidos com os do sapo e a refletir sobre como se sentem quando os presenciam, além de identificar possíveis consequências: quem é assim pode magoar os amigos, afastar as pessoas, entre outras. Aproveite para dialogar sobre a ideia de que ninguém é perfeito e que é importante respeitar as diferenças. Valorize todas as contribuições, mostrando que cada opinião ajuda a enriquecer a interpretação da história que será lida.
Já no momento de familiarização com a obra, incentive a leitura inferencial, na qual as crianças começam a antecipar a história e a se envolver com a narrativa antes de iniciar a leitura, técnica que promove habilidades interpretativas. Para isso, mostre-lhes a capa do livro e leia o título O sapo enjoado. Em seguida, faça-lhes estas perguntas:
• O que vocês estão vendo nesta capa? O que chama a atenção de vocês?
• O que vocês acham que significa um sapo enjoado? Como vocês imaginam que ele é, e o que faz para ser chamado de enjoado?
• O sapo parece feliz, ou bravo na capa? Por quê?
• Quais outros personagens vocês acham que vão aparecer nesta história?
Estimule as crianças a descrever características ou atitudes que associam à palavra “enjoado”. Elas podem inicialmente ligá-las a questões físicas, como sentir-se enjoado, mas, de maneira geral, já é esperado que reconheçam que “enjoado”, nesse contexto, descreve alguém que reclama muito, é exigente ou difícil de agradar. Aproveite esse momento para levantar as diversas possibilidades e ideias que as crianças podem ter sobre o que irão ler no livro, a partir da capa e do título, estimulando sua imaginação. Valorize todas as respostas e mostre que, antes mesmo da leitura, já estamos explorando a história e usando pistas para construir ideias.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
EI03EF01
Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão.
EI03EF06
Produzir suas próprias histórias orais e escritas
(escrita espontânea), em situações com função social significativa.
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Natureza, cores e formas
Ao longo da leitura, estimule as crianças a observar as ilustrações e os diferentes elementos da natureza representados por suas cores e formas, como nas páginas apresentadas a seguir. Questione-as:
• Como pode o sapo enjoado achar que só ele é bonito, tendo tudo isso à sua volta?
• O que vocês acham mais lindo na natureza?
Dica
Faça a leitura do livro modelando a entonação e o ritmo. Use esses recursos para envolver as crianças na história e servir como modelo de leitura literária e em voz alta. No caso de O sapo enjoado, é interessante usar uma entonação que remeta a uma pessoa enjoada, arrogante e que se acha superior. Mais para o final do livro, essa entonação pode mudar, conforme o sapo vai deixando de ser enjoado.
Deixe que tragam suas opiniões a partir do que está no livro e do que lembram, como flores, plantas e animais.
Narciso não acha belo o que não é espelho
A página em destaque a seguir mostra o sapo admirando seu reflexo no lago. Essa cena nos remete ao mito de Narciso, uma história clássica da Grécia Antiga. Conte o mito para as crianças, de forma adaptada e contextualizada, e pergun-te o que elas acham que o sapo tem em comum com Narciso. Ajude-as a ver que ambos só acha-vam bonito o próprio reflexo.
Para saber mais
Narciso, personagem da mitologia grega, era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope, além de ser conhecido por sua beleza incomparável. Sua história é marcada pelo encontro com a ninfa Eco, que foi rejeitada por ele. Como punição, a deusa Nêmesis o condenou a se apaixonar pelo próprio reflexo. Incapaz de alcançar a imagem que via, Narciso definhou até a morte, e, no local de sua morte, nasceu a flor narciso. O mito explora temas como vaidade, amor-próprio e autoconhecimento, sendo relevante até hoje como reflexão sobre equilíbrio emocional e valorização interior (Saga Histórica, 2024).
Mobilizando a curiosidade
Converse com as crianças sobre as diferenças e semelhanças entre sapos, rãs e pererecas.
Para saber mais
Sapo, rã e perereca são anfíbios que pertencem à ordem Anura, palavra que significa “sem cauda”. Apesar das semelhanças físicas, os três são animais diferentes.
Sapos: têm pele rugosa e seca, costumam viver mais no chão e perto da água. Geralmente, eles se movimentam dando pequenos saltos ou caminhando.
Rãs: têm pele mais lisa e úmida, pernas longas e são ótimas saltadoras. Vivem mais perto de rios e lagos.
Pererecas: têm discos adesivos nas pontas dos dedos que as ajudam a escalar árvores. Costumam ser menores e vivem em locais mais altos, como galhos de árvores.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
EI03TS02
Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais.
EI03EO04
Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos.
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Após a leitura, realize um novo momento de diálogo sobre as temáticas abordadas pelo livro. A conversa é dinâmica e deve ser guiada pelas reações da turma, porém algumas questões podem ajudar a conduzir o diálogo:
• O que vocês acharam do sapo no início do livro? Por que vocês acham que o sapo agia daquela forma?
• O que vocês acharam da atitude da cobra?
• O que mudou no sapo depois de conhecer a cobra? O que ele aprendeu com essa experiência?
• O que essa história nos ensina sobre como tratar os outros e a nós mesmos?
• Se você pudesse dar um conselho para um amigo que reclama de tudo e acha que é perfeito, o que você diria?
Aproveite esse momento para dialogar com as crianças sobre como as atitudes que adotamos em relação aos outros e a nós mesmos podem impactar nossos relacionamentos. Discuta a importância de reconhecer nossos próprios defeitos e valorizar as qualidades dos outros, atitudes que promovem a empatia e o respeito. Traga exemplos do cotidiano das crianças, como situações na escola ou em casa, para que elas percebam como essas lições se aplicam à realidade. Encoraje-as a compartilhar suas reflexões e experiências pessoais, destacando como mudanças de com-portamento, como as do sapo, podem melhorar a convivência. Mostre-lhes que aprender com os erros e aceitar que ninguém é perfeito são passos importantes para o crescimento pessoal e o fortalecimento das amizades.
ATIVIDADES
Pequenas alegrias
Esta atividade tem como objetivo estimular a reflexão sobre momentos felizes e de gratidão, usando a escrita como ferramenta para expressar sentimentos. Para iniciar, você pode conduzir uma conversa com a turma sobre o conceito de gratidão, incentivando os estudantes a pensar em momentos simples que podem trazer alegria, como brincar com um amigo, receber um abraço, comer algo gostoso ou ouvir palavras de carinho.
Após a conversa, registre, como escriba, as histórias de gratidão das crianças em uma folha especial, chamada Histórias de gratidão. Durante esse momento, faça perguntas como: “O que te fez feliz hoje?”, “há algo que te deixou agradecido recentemente?” ou “quando você se sentiu bem?”. Ao fazer isso, escreva as respos-tas das crianças, ajudando-as a expressar suas emoções com frases simples como: “Eu me senti muito feliz quando…” ou “agradeço porque…”.
Após a escrita, a turma deve se reunir em roda para compartilhar as histórias. Esse momento permite que todos ouçam e respeitem as experiências uns dos outros, criando um espaço de reflexão coletiva. Assim como o sapo, que começou a perceber o valor das pequenas coisas ao seu redor, as crianças aprendem a identificar e valorizar os pequenos gestos que trazem alegria e gratidão.
Por fim, as histórias são registradas no Diário das Pequenas Alegrias, reforçando o hábito de reconhecer os momentos especiais do dia a dia e de ser grato pelas coisas simples.
Um objeto nada perfeito
Uma excelente forma de explorar a ideia de que não é necessário ser perfeito pode ser inspirada pela técnica tradicional japonesa do kintsugi.
Para uma atividade prática relacionada a ela, você pode propor que as crianças “quebrem” um objeto simbólico, como folhas de papel ou uma pequena peça de cerâmica (preferencialmente de barro ou de outro material seguro), e depois o restaure de maneira criativa. Por exemplo, elas poderiam rasgar pedaços de papel colorido e colá-los com cola dourada, imitando o processo de kintsugi. Ao fazer isso, as crianças poderiam refletir sobre como, em vez de esconder as falhas, podemos aprender a valorizá-las e até as usar como parte do nosso crescimento (El País, 2017).
Exposição de perfeições e imperfeições
A atividade final consiste em uma exposição na qual as crianças apresentam suas peças restauradas com base no kintsugi e compartilham seus textos de gratidão. As peças, que representam imperfeições valorizadas, são feitas com materiais como papel dourado e cola, seguindo a filosofia do kintsugi, enquanto os escritos re-fletem momentos de felicidade e agradecimento no cotidiano. A exposição promove a expressão artística e a escrita, ressaltando a importância de reconhecer e celebrar as pequenas alegrias e as imperfeições que tornam cada momento único.
Para saber mais
O kintsugi é uma técnica japonesa
de restauração de porcelanas que utiliza ouro, prata ou platina para emendar as peças quebradas, transformando as falhas em elementos visíveis e belos. Ela surgiu no século XV, quando o xogum japonês Ashikaga Yoshimasa rejeitou um restauro chinês com grampos metálicos e pediu que fosse criada uma forma de reparo que destacasse as imperfeições. Existem três estilos principais no kintsugi:
• Hibi: cola os pedaços com pó de ouro ou prata.
• Kake: preenche partes faltantes com resina ou ouro.
• Yobitsugi: usa fragmentos de outra peça para completar a restauração.
Além de sua técnica, o kintsugi está relacionado ao conceito de Wabi Sabi, que valoriza a beleza nas imperfeições e na transitoriedade das coisas. Assim, a técnica transforma objetos danificados em peças únicas e significativas.
Para saber mais sobre essa técnica, assista ao vídeo de Paulo Hatanaka, especialista em kintsugi.
Dos estudantes
Faz de conta
A canção Faz de conta, dos Engenheiros do Hawaii, mistura ironia e nostalgia, refletindo sobre as ilusões da vida e trazendo uma referência ao mito de Narciso. Além disso, questiona o excesso de autoimagem e convida ouvinte a revisitar sonhos e fantasias com um olhar crítico.
Dos professores
Inclusão: conviver com a diferença forma crianças mais empáticas
O texto sugerido apresenta os benefícios da educação inclusiva e mostra como o convívio entre crianças fortalece a empatia, reduz os preconceitos e promove a colaboração. Esse modelo melhora a autoestima, a convivência social e os valores éticos de todos os estudantes. Casos reais ilustram como pequenas ações no dia a dia escolar refletem a importância da inclusão, a qual, além de um direito, é uma ferramenta para construir escolas e sociedades mais justas.
Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:
Referências
REBÓN, Marta. O Japão e a arte de restaurar com ouro: a beleza da imperfeição. El País, 1 dez. 2017. Disponível em:
https://linkja.net/restauracaocomouro. Acesso em: 5 dez. 2024.
ENGENHEIROS do Hawaii – Faz De Conta (Ao Vivo). Roberto de Oliveira. [S. l.: s. n., 2018]. 1 vídeo (3 min. 17). Publicado em: 30 out. 2018. Disponível em: https://linkja.net/fazdeconta. Acesso em: 02 dez. 2024.
NEUMAM, Camila. Sapo, rã e perereca: desvende as diferenças e os mitos de cada espécie. Instituto Butantan, 2024. Disponível em: https://linkja.net/saporaeperereca. Acesso em: 2 dez. 2024.
#JHSPONLINE | KINTSUGI: ACEITAR E VALORIZAR AS IMPERFEIÇÕES. [S. l.: s. n., 2020]. 1 vídeo (3 min. 45). Publicado pelo canal Japan House São Paulo. Disponível em: https://linkja.net/kintsugi. Acesso em: 5 dez. 2024.
PEREIRA, Raphael Preto. Inclusão: conviver com a diferença forma crianças mais empáticas. Lunetas, 3 set. 2019.
Disponível em: https://linkja.net/inclusao. Acesso em: 2 dez. 2024.
CLARKE, Leo. Narciso: o reflexo da vaidade na mitologia grega. Saga Historica, s. d. Disponível em: https://linkja.net/Narciso_q19a. Acesso em: 5 dez. 2024.