Na sala de aula

ROTEIRO DE LEITURA

capa cabe mais um

Cabe mais um?

Elena Rossini
Irene Penazzi
Tradução: Janette Tavano
Gênero: Narrativa
Idade: 4 anos
Segmento: Literatura Infantil
Tema: Amizade

Talvez a brincadeira seja o espaço privilegiado da imaginação. Com poucos materiais é possível ir muito longe, realizar grandes feitos. No livro Cabe mais um?, crianças e adultos querem desfrutar desse momento, e a junção de todos cria novas possibilidades. A cabana que se instaura protege esse encontro e as ilustrações, ora escondendo, ora revelando ao leitor tudo que se passa ali dentro. A opção por trazer no texto apenas a pergunta “Cabe mais um?” é também oportunidade para que o leitor se deixe levar pela imaginação, desvendando pelas imagens tudo quanto puder!

Neste roteiro, vamos explorar aspectos da leitura visual das ilustrações, bem como entrar no clima da brincadeira, criando espaço para conectar crianças e suas famílias, estimulando as trocas e recuperando memórias.

Antes da leitura

,

Dica

Este é um livro que requer uma atenção especial para a leitura das imagens e tudo que elas revelam. Assim, embora pareça uma narrativa simples, é fundamental realizar uma leitura prévia e atenta antes de fazer a mediação de leitura.

Sugerimos que você reserve um tempo para percorrer as páginas com tranquilidade, percebendo cada detalhe das caprichadas ilustrações.

Você pode se perguntar: quem chegou? O que trouxe? O que mudou de uma página para outra? A partir desse mergulho na obra, será possível fazer uma mediação de leitura mais interessante e potente com seus estudantes.

Antes de iniciar a leitura, reúna o grupo e proponha uma brincadeira, como corre cotia, passa anel ou uma brincadeira cantada. A ideia é criar um ambiente divertido e leve, de forma que as crianças possam vivenciar sensações que serão acessadas durante a leitura da obra.

Após a brincadeira, sugerimos que você acesse a página Território do Brincar e escolha uma brincadeira para fazer com as crianças. Sugerimos a Brincadeira da Onça, da Aldeia Nasêpotiti – Terra Indígena Panará, PA. Mas fique à vontade para explorar outras brincadeiras.

Com o link disponibilizado a seguir, é possível acessar a explicação e visualizar fotos da Brincadeira da Onça.

Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/brincadeira-da-onca-2/.

Para a familiarização com a obra, com o livro em mãos, mostre às crianças a capa da obra, explorando as informações presentes. A partir de perguntas, procure destacar cenas, personagens e objetos que podem trazer pistas sobre a história que será lida.

• O que será que essas crianças estão fazendo?

• O que tem no espaço junto com as crianças?

• Vocês conseguem encontrar um carrinho? E o que mais?

• Alguém viu uma boneca?

A capa traz uma ilustração com grande quantidade de informação visual. Assim, tais perguntas poderão apoiar os estudantes a direcionar o olhar, de forma que possam capturar o todo, mas também fragmentos desta rica imagem inicial.

cabe mais um roteiro de leitura 01

Escute as respostas dos estudantes. É possível que, diante da primeira pergunta, alguns apenas respondam que as crianças estão brincando. Mas é possível também que outros já indiquem a referência à brincadeira da cabaninha. Observe o que mais eles encontram na ilustração a partir da segunda pergunta. As perguntas finais são formas ainda mais diretas de reconhecer os elementos presentes na ilustração e nomeá-los.

Glossário

i-ma-gi-nar

1. Conceber na mente imagem de algo que não é real ou que não está presente; excogitar, fantasiar, idear: […]

2. Fazer ideia de; visualizar(-se):

3. Fazer ideia sobre algo ou alguém; conjecturar, crer, presumir(-se), supor(-se): […]

4. Criar algo; inventar: “Uma criança viva e espirituosa, quando está quieta, é porque imagina novas travessuras” (JMM).

(Adaptado de Michaelis, 2025).

Durante a leitura

,

Dica

Sugerimos que seja feita uma leitura mediada, mas que o livro possa também ficar disponível para visualização autônoma dos estudantes em outros momentos. Como mencionado, há grande quantidade de detalhes na obra e é possível que as crianças queiram retomar a leitura para capturar esses detalhes, visualizando as ilustrações em seu tempo.

O que as imagens nos contam

Observe que as duas duplas de páginas iniciais do livro Cabe mais um? não apresentam nenhum texto verbal. Nas páginas seguintes, novos personagens chegam, sempre trazendo algo para dentro da brincadeira e reto-mando a mesma pergunta com o texto verbal: “Cabe mais um?” Ao final, a sequência das duplas de páginas segue também sem texto escrito. No entanto, por meio da visualização das imagens e da forma como elas se organizam de modo sequencial no livro, é possível seguir com a leitura, acompanhar as ações dos personagens e compreender uma história.

Livros em que grande parte da narrativa se desenvolve apenas a partir da linguagem visual podem parecer difíceis de ler e trazer dúvidas ao mediador de leitura. Mais do que narrar ou descrever as informações das ilustrações, sugerimos que a condução da leitura parta de perguntas que, além de orientar, possam inspirar uma postura de investigação nos leitores. Além disso, dessa forma você se insere no momento da leitura também como um leitor que está decifrando os sentidos da narrativa, e não como alguém que já sabe exatamente o que será encontrado. Na página inicial, você pode perguntar:

• Onde será que essas crianças estão?

• Alguém tem alguma ideia de para onde elas estão indo? E o que vão fazer?

• Como elas parecem estar? Animadas?

• Por que vocês acham isso? Há algo na ilustração que os fez pensar dessa maneira?

• Alguém viu algo mais que gostaria de comentar com o grupo?

cabe mais um roteiro de leitura 02

Tais perguntas podem inspirar os estudantes a observar a ilustração em detalhes, compreendendo algo mais sobre a cena a partir dos elementos que a compõem. Eles poderão arriscar que se trata de uma casa, pois há uma poltrona e um vaso que indicam isso. Poderão também observar os objetos que cada criança carrega. E, sobretudo, somente pela ilustração podem perceber o clima de empolgação representado na imagem.

Fragmentar para visualizar o todo

Em algumas passagens do livro, a composição das imagens é bastante caótica. Além de muitas cores, a ilustradora apresenta ao leitor detalhes, texturas e cenas menores dentro de uma cena maior.

Em meio a tantos elementos, por vezes pode ser difícil para o leitor enxergar tudo aquilo que a imagem representa. Sugerimos novamente que você traga algumas perguntas que podem auxiliar as crianças nesse processo de fragmentação para compreender o todo com mais tranquilidade:

• O que a criança em cima do sofá está fazendo?

• Alguma outra criança a está ajudando?

• Há duas cestinhas e pequenos objetos que se espalharam no chão, alguém tem alguma ideia do que poderiam ser esses objetos?

• O que mais vocês observam aqui?

cabe mais um roteiro de leitura 03

Questões como essas poderão orientar o olhar das crianças, ajudando-as a destacar elementos importantes da cena. Retome alguma resposta dada pelas crianças anteriormente.

• Será que as crianças continuam animadas?

Aqui é importante que você retome a resposta dada pelas crianças, conforme expressado por elas. Perguntas que retomam o que foi dito são importantes para reforçar que neste ambiente de leitura há escuta e consideração pela contribuição de cada um. Além disso, as crianças poderão confirmar hipóteses de leitura, procurando nas ilustrações pistas para confirmá-las ou refutá-las. O exercício de levantar hipóteses e investigar sua ocorrência nas próximas páginas será importante ao longo da narrativa.

Um gatinho em todo canto

Um recurso bastante utilizado por ilustradores para construir a narrativa visual é a presença de um objeto ou animal que acompanha o leitor em todas ou quase todas as páginas do livro. É comum que esse personagem tenha uma atuação um tanto autônoma se comparada à dos outros personagens da história.

No caso deste livro, podemos destacar a presença de um gatinho preto. Ele aparece nas guardas do livro e em todas as ilustrações, até o final. Você pode explorar a presença desse animal e conversar com as crianças sobre sua participação na narrativa.

• Alguém reparou na presença de um animal no meio dessa brincadeira?

• Vamos observar com calma as ilustrações do livro novamente e perceber como ele se movimenta. Vocês acham que ele está gostando da brincadeira?

• O que mais ele faz?

Retome as ilustrações do livro desde o início. Neste momento, converse com o grupo que a ideia será fazer uma leitura focada no gatinho e em sua movimentação. É possível que as crianças já tenham observado a presença do gatinho, que, por ser preto, se destaca em meio ao fundo branco ou diante das cores.

Observe se elas percebem que o gatinho parece ter uma presença autônoma, mas que deseja participar da brincadeira. É possível que as crianças notem também o momento em que o gatinho rouba um pedaço de pizza ou quando brinca com os tecidos, logo antes de a cabana desabar.

Para saber mais

“Brincar é o maior exercício de liberdade que o ser humano pode fazer.” A frase de Lydia Hortélio nos ensina que brincar não deve se restringir ao corpo da criança. Pesquisadora, musicista, especialista em Música de Tradições Rurais e Cultura da Criança, as pesquisas e os pensamentos de Lydia Hortélio podem contribuir com a formação dos educadores (Hortélio, 2014).

Após a leitura

,

Ao final da leitura, observe a reação das crianças, suas falas e movimentações corporais. Essa observação é importante pois pode indicar percepções sobre como as crianças se relacionaram com a obra. Por vezes, as crianças podem acabar não verbalizando suas sensações, mas transmitindo-as pelo olhar e pela postura. Você pode trazer também algumas perguntas para inspirar uma conversa sobre a obra:

• Quem estava participando da brincadeira?

Você pode abrir o livro novamente e retomar algumas ilustrações em que seja possível visualizar essa resposta. Contudo, ouça as hipóteses levantadas pelas crianças a respeito da brincadeira observada no livro.

• Eles pareciam estar gostando de estar ali?

• No final, quando a cabana se desfaz, eles param de brincar?

A partir dessas questões, as crianças poderão retomar trechos importantes da narrativa, percebendo que havia adultos e crianças brincando juntos, observando com cuidado suas expressões e reconhecendo o que ocorre ao final, quando os tecidos da cabana se desprendem e eles inventam uma nova brincadeira.

ATIVIDADES

Uma lista de brincadeiras

Para aprofundar ainda mais o tema, você pode perguntar às crianças sobre suas brincadeiras preferidas.

• Alguém poderia comentar com a turma sobre outras brincadeiras que conhece?

• E vocês saberiam dizer qual é a sua brincadeira favorita?

• Alguém pode dizer uma parte boa da brincadeira? E uma parte ruim?

Tais perguntas pretendem estimular as crianças a compartilhar algumas brincadeiras e recuperar memórias e histórias relacionadas à experiência do brincar. Pode ser que algumas crianças citem a brincadeira sugerida pelo livro. Outras podem citar brincadeiras populares, como corre cotia e pega-pega. Ou, até mesmo, podem citar as brincadeiras indígenas que sugerimos no início. Caso as respostas se repitam, você pode lembrá-las de outras brincadeiras ou pedir que alguém tente pensar em algo diferente que ainda não foi mencionado.

Construa uma lista de brincadeiras em um papel que possa ser visualizado por todos e depois exposto na sala de aula. Seja o escriba desta lista, permitindo que as crianças foquem a temática dela.

As brincadeiras lá de casa

Ao longo da leitura, foi possível observar a presença dos adultos na brincadeira. Com características marcantes e trazendo objetos diferentes, cada um deles contribuiu, tornando a cabana cada vez mais divertida. Aprofunde a presença dos adultos, que é explorada pelo livro, e sugira que as crianças façam uma pesquisa em casa, com seus pais, suas mães e seus cuidadores, procurando investigar quais eram as brincadeiras que eles faziam na infância.

Esta será como uma atividade para casa e, por isso, é importante que as orientações estejam claras e sejam solicitadas com o tempo de antecedência suficiente. Converse com as crianças, avisando que farão uma pesquisa para conhecer as brincadeiras de antigamente e perceber se são muito diferentes das brincadeiras de hoje em dia (já registradas na lista). Assim, combine com elas que todas deverão perguntar aos pais, mães e cuidadores sobre uma brincadeira que eles faziam na infância.

As crianças devem entender como a brincadeira funcionava e iniciar um desenho sobre ela. Por exemplo, se a resposta for bola, a criança pode representar uma bola; se for corda, uma corda; se for brincadeira de roda, representar crianças brincando em roda, etc. Esse desenho pode ser finalizado na classe. Quando todos tiverem completado a atividade, reúna o grupo de forma que todos possam contar para a classe qual era a brincadeira feita por seus pais, suas mães e seus cuidadores.

Uma coleção de brincadeiras

Em outro momento, retome a lista de brincadeiras atuais feita pelas crianças e as pesquisas feitas pelos estudantes com suas famílias. Compare as respostas procurando as que se repetem e as que se diferenciam.

Monte uma exposição com os desenhos das crianças e com a lista elaborada coletivamente. Caso as crianças já saibam escrever, você pode pedir para que escrevam no desenho o nome da brincadeira que pesquisaram. Caso ainda estejam aprendendo, escreva junto com elas, de forma que cada desenho tenha um título. Convide os pais, as mães e os cuidadores para conhecer essa pequena coleção de brincadeiras elaborada pela turma.

Para ampliar o repertório

Dos estudantes

Para seguir explorando o tema das brincadeiras, sugerimos que as crianças conheçam alguns vídeos do Projeto Território do Brincar. Selecionamos duas brincadeiras bem diferentes, mas aproveite para conhecer tantas quantas quiser.

Brincadeiras com barbante.

Disponível em: https://linkja.net/figuras-barbante-nivel-basico-YouTube.

Corrida de Tora – Aldeia Nasêpotiti, PA.

Disponível em: https://linkja.net/corrida-de-tora-YouTube.

Dos professores

O Projeto Mapa do Brincar é outra referência importante da pesquisa sobre brincadeiras no Brasil. Ele teve início em 2009 com o suplemento “Folhinha”, do Jornal Folha de S.Paulo, quando o jornal lançou o convite para que as crianças enviassem suas brincadeiras. A ideia seria reconhecer semelhanças e diferenças entre as brincadeiras feitas por crianças de todo o Brasil.

Você pode conhecer mais sobre o projeto e as próprias brincadeiras a partir deste link:

https://mapadobrincar.folha.com.br/projeto/.

Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:

Referências

BAJOUR, Cecilia. La orfebrería del silencio: la construcción de lo no dicho en los libros-álbum. 1. edição. Córdoba: Comunicarte, 2016. p. 85-100.

FOLHA DE S.PAULO. Projeto Mapa do Brincar. Disponível em: https://mapadobrincar.folha.com.br/projeto/. Acesso em: 15 abr. 2025.

HORTÉLIO, Lydia. “Brincar é o maior exercício de liberdade que o ser humano pode fazer”. Revista Brincante, 16 jul. 2014. p. 22-23. Disponível em: https://issuu.com/rosanebrincante/docs/lydia_hort__lio. Acesso em: 16 abr. 2025.

IMAGINAR. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos, 2025 (adaptado).
Disponível em: https://linkja.net/imaginar-Michaelis. Acesso em: 28 mar. 2025.

SETTON, Luisa; MEDRANO, Sandra. Leitura e mediação do livro-imagem: quando a imagem fala. In: TAVARES, Cristiana; WEISZ, Telma (org.). Literatura e Educação. Porto Alegre. Zouki, 2021.

TERRITÓRIO DO BRINCAR. Brincadeira da Onça. Território do Brincar, 18 mar. 2014.
Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/brincadeira-da-onca-2/. Acesso em: 28 mar. 2025.

TERRITÓRIO DO BRINCAR. Série MiniDocs | Corrida de Tora – Aldeia Nasêpotiti, PA. Território do Brincar, 4 jul. 2016. 1 vídeo (1 min).
Disponível em: https://linkja.net/corrida-de-tora-YouTube. Acesso em: 28 mar. 2025.

TERRITÓRIO DO BRINCAR. Figuras de Barbante – Nível Básico – Tricô de Dedo. Território do brincar, 10 abr. 2020. 1 vídeo (2 min).
Disponível em: https://linkja.net/figuras-barbante-nivel-basico-YouTube. Acesso em: 28 mar. 2025.

plugins premium WordPress