Na sala de aula

ROTEIRO DE LEITURA

capa quer cha

Quer chá?

Suria Scapin
Laís Souza
Tradução: -
Gênero: Livro ilustrado
Idade: 6 anos
Segmento: Ensino Fundamental - Anos Iniciais
Tema: Autonomia

Quer chá?, de Suria Scapin e Laís Souza, é um convite para olharmos nossos medos e os solucionarmos de forma lúdica. Uma corajosa garota recebe em sua casa diversos personagens e seus medos, que são resolvidos por meio de uma xícara de chá e uma brincadeira.

Este roteiro de leitura tem como objetivo acompanhar o professor desde a realização e a degustação de chás, a leitura da obra, até um projeto final em que as crianças, após o contato com a história, possam se tornar sujeitos protagonistas, interagindo com os próprios medos e encontrando as possíveis soluções para enfrentá-los.

Antes da leitura

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Professor, antes de iniciar a leitura, sugerimos que seja realizado o “dia do chá”: um dia em que as crianças poderão conhecer o processo de preparo de um chá. Você pode levar diferentes tipos de chás (sachê de diversos sabores, ervas frescas, frutas, entre outros), explicar para as crianças o processo de infusão com água quente e mostrar as diferenças entre os ingredientes antes e depois de prontos. Leve para a classe (ou para a cozinha da escola) os itens necessários para fazer o chá: água quente, recipiente próprio (de preferência uma chaleira tradicional, para que a criança já entre em contato com o utensílio que estará na capa do livro), ervas e sachês diversos, e xícaras.

Durante todo o processo (realização do chá e experimentação), explore com os estudantes os mais diversos sentidos: os sabores e cheiros preferidos, a temperatura do chá na xícara e na boca, e a possibilidade de tomá-los, posteriormente, gelados.

Para saber mais

Formas de preparo dos chás

INFUSÃO

Preparação que consiste em colocar água fervente sobre a planta ou a droga vegetal e, em seguida, tampar ou abafar o recipiente por um período de tempo determinado (de 5 a 10 minutos), coando depois.

Método utilizado para folhas, flores, inflorescências e frutos, que nunca devem ser fervidos.

DECOCÇÃO ou COZIMENTO

Preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo determinado. A planta ou droga vegetal deve ser colocada em água fria e levada ao fogo por 10 a 20 minutos. Após, deixar em repouso por 10 a 15 minutos e coar em seguida.

Método indicado para partes duras de plantas ou drogas vegetais, tais como: cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas.

MACERAÇÃO

Preparação que consiste no contato da planta ou droga vegetal com água, a temperatura ambiente, por tempo determinado. Colocar a planta amassada e picada de molho em água fria, de 10 a 24 horas, e coar. Método indicado para drogas vegetais que apresentem substâncias que se degradam com o aquecimento.

Tempo de maceração

Para folhas, sementes e partes tenras: 10 a 12 horas

Para talos, cascas e raízes: 22 a 24 horas

(Fonte: UNA-SUS).

Em roda, inicie uma conversa sobre o medo, para familiarizar as crianças com o tema que será trabalhado no livro. Levante questionamentos como:

• Quem já sentiu medo?

• Do que você tem medo?

• Qual a sua reação quando sente medo?

Acolha os medos das crianças, que podem ser os mais variados, tais como medo do escuro, de insetos, injeção, ladrão, altura, chuva, etc. Você também pode citar seus medos de hoje ou da infância. Essas perguntas têm como objetivo o diálogo e a escuta, para que as crianças possam expressar o que sentem e até mesmo ressignificar esse sentimento.

A partir dessa vivência, apresente a capa do livro, ainda sem dizer o título. Em seguida, mostre a capa aberta, para que as crianças vejam que a ilustração tem continuidade entre a capa e a quarta capa. A imagem traz elementos coloridos que remetem a um chá da tarde: xícaras, bule, colheres, pratos, etc. Pergunte para as crianças:

• O que vocês veem nesta capa?

• Sobre o que será a história?

Por se tratar de objetos do cotidiano, as crianças saberão nomear o que veem na imagem. Sobre a temática da história, ainda não há indícios acerca da questão do medo, mas elas provavelmente responderão que se trata de uma história sobre chá, café ou refeição. Após as hipóteses serem levantadas, conte que o título é Quer chá? e leia o texto da quarta capa:

“Medo, todo mundo tem.
Podem ser grandes, pequenos,
um ou muitos. Mas uma xícara
de chá pode mudar tu
do!

A partir dessa nova informação, pergunte de novo aos estudantes se há mais algum tema que poderá ser abordado na história. Você pode ajudá-los retomando a conversa que tiveram no “dia do chá”. O objetivo é que eles percebam o tema central da história: a relação com o medo.

Durante a leitura

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Quer chá? traz um importante tema que é vivenciado também pelas crianças: o medo. Além disso, a obra traz referências sobre como lidar com os medos. Seguem alguns destaques da obra que podem ser considerados no momento de leitura.

Dica

Para esta leitura, sugerimos que o professor leia o livro em voz alta, com as crianças em círculo e/ou ao redor dele, para que todos possam acompanhar as ilustrações junto da narração.

Medo todo mundo tem

Perceba que, na obra, há uma sequência de personagens e seus medos, e cada um é levado até a menina por uma “indicação” do personagem anterior: esqueleto Eustáquio indica a corajosa garota para a girafa Clotilde, que indica para o hipopótamo Teobaldo, que indica para a pata Genoveva.

Um ponto importante de se destacar é que cada personagem tem um medo específico, que contradiz a própria natureza de cada um deles: o esqueleto tem medo do escuro; a girafa, de altura; o hipopótamo, da chuva; e a pata tem medo de atravessar a lagoa sozinha.

A garota corajosa recebe cada amigo com uma xícara de chá. Junto da bebida, a garota propõe uma ação para combater o medo: para o medo de escuro do esqueleto, tinta que brilha no escuro; para o medo de altura da girafa, brincar na gangorra; para o medo de chuva do hipopótamo, brincar nas poças d’água; para o medo de atravessar a lagoa sozinha da pata, a companhia durante o treino na banheira.

Como o medo é contado?

Note também como a história do esqueleto é contada como uma lembrança, diferentemente das outras, que acontecem no tempo presente. Isso é indicado pelo texto verbal no pretérito e pela distinção gráfica com balões de pensamento na cor roxa.

Outro elemento importante desta narrativa são os balões de fala: um recurso das histórias em quadrinhos para dar voz aos personagens em algumas cenas. Isso torna o livro ainda mais lúdico, uma vez que rompe com a linearidade do texto em prosa e transfere visualmente a fala para cada personagem.

Explorando as imagens

O livro alterna entre ilustrações de página dupla e ilustrações sequenciais. Repare que as sequências de imagens são apresentadas quando as personagens estão agindo para solucionar seus medos, com a intenção de, na mesma cena fragmentada, acompanharmos o medo “indo embora” da expressão e da atitude dos animais. Para apresentar essa questão aos estudantes, levante os questionamentos:

• Em quais momentos as ilustrações são apresentadas em quadros?

• Por que você acha que isso acontece?

• Ao ver os quadros em sequência, você consegue perceber uma história?

Você pode fazer a leitura de cada imagem em sequência, para que a criança perceba a relação entre o quadro com seu anterior e o posterior.

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Surpresa!

O final da história revela uma surpresa: todos os animais cujos medos a garota ajuda a superar são brinquedos do seu quarto. Isso pode ser percebido na página final, em que a garota, deitada em sua cama, está cercada de brinquedos que fizeram parte da história: um hipopótamo de pelúcia, uma girafa articulada, um patinho de borracha e um chaveiro de esqueleto. Para que as crianças também percebam essa mudança na história (mundo imaginado e quarto real), levante as questões a seguir com elas:

• O que mudou de uma página para a outra?

• Qual é o cenário de cada imagem?

• Todos os personagens de uma página estão na outra?

• Por que estão desenhados de forma diferente na segunda imagem?

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Esse pode ser um momento lúdico em que as crianças irão procurar os personagens na última página. Provavelmente encontrarão todos eles; mas, caso elas tenham dificuldade em perceber que todos são brinquedos na última imagem, indique para elas. Nosso objetivo com a pergunta sobre os diferentes estilos de ilustração entre as imagens é que a criança seja levada a perceber que tudo se tratava da imaginação da menina, para que ela, possivelmente, trabalhasse os próprios medos por meio de brincadeiras.

Após a leitura

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Após a leitura, retome o tema central da história: o medo. Para iniciar o diálogo, faça com as crianças uma lista dos medos mencionados na turma e convide-as para um momento simbólico de chá. Distribua xícaras de brinquedo e incentive uma conversa leve e acolhedora, em que cada criança pode falar sobre seus medos e refletir sobre formas de enfrentá-los, assim como os personagens do livro fizeram.

Para guiar a conversa, proponha as seguintes reflexões:

• O que faz um medo parecer maior? Ele aumenta quando estamos sozinhos?

• Como vocês acham que o chá ajudou os personagens? Foi apenas o chá ou algo mais?

• Já ajudaram um amigo que estava com medo? O que fizeram?

• Se pudessem convidar seu medo para um chá, o que diriam a ele?

Ao longo da conversa, acolha cada resposta sem julgamento e reforce a ideia de que todo mundo sente medo; mas que, com apoio, coragem e estratégias, podemos aprender a lidar com ele.

ATIVIDADES

Medo de quê?

Agora é a vez de as crianças criarem novas situações de medo e pensarem em formas de superá-las, assim como a protagonista do livro fez com seus amigos. Apresente diferentes animais e pergunte:

• Que medos esse animal poderia ter?

Incentive a criatividade das crianças ao sugerir exemplos como:

• Um pássaro com medo de voar;

• Uma tartaruga com medo do escuro;

• Um morcego com medo de ficar de ponta-cabeça;

• Um gato com medo de rato.

Depois de listar os medos, questione:

• Se vocês fossem a personagem do livro, como ajudariam esse amigo?

• O que poderiam fazer para que ele se sentisse mais seguro e superasse o medo?

Cada criança pode escolher um dos animais e desenhar ou dramatizar uma solução, mostrando como ofereceria apoio – e, claro, uma xícara de chá reconfortante!

Desenhe seus medos

Chame a atenção das crianças para a dedicatória do livro:

“Para quem tem coragem de convidar

seus medos para uma xícara de chá.”

Proponha, então, a seguinte atividade:

Entregue para cada criança uma folha sulfite e materiais para desenho. A criança pode escolher seu próprio material nesse momento: lápis de cor, canetinha, giz de cera.

Proponha que façam um desenho com o título “Convido este medo para tomar um chá: ”

Para ajudar na reflexão, faça algumas perguntas enquanto desenham:

• Como é o seu medo? Ele tem cor, forma, tamanho?

• Se seu medo pudesse falar, o que ele diria para você?

• E se vocês tomassem chá juntos, sobre o que conversariam?

• Existe algo que poderia torná-lo menos assustador?

Após os desenhos ficarem prontos, quem quiser pode compartilhá-los com os colegas, explicando seu medo e como imaginou essa conversa. O objetivo da atividade é expressar emoções de forma lúdica, ressignificar os medos e mostrar que todos podem aprender a lidar com eles. Essa atividade também dará a oportunidade para que as crianças trabalhem artisticamente a elaboração do seu próprio medo.

Compartilhando medos

Agora que cada criança representou seu medo no desenho, vamos compartilhar e perceber que falar sobre eles pode torná-los menos assustadores!

Crie uma exposição dos desenhos na sala ou em um espaço da escola, organizando-os como se fosse uma “Galeria dos Medos”. Convide as crianças para passear pela exposição e observar os desenhos dos colegas. Durante esse momento, estimule a troca com perguntas como:

• Algum medo desenhado por um amigo é parecido com o seu?

• Como você se sente ao ver que outras pessoas também têm medos?

• Que conselhos você daria ao seu amigo para ajudá-lo a enfrentar esse medo?

Ao final, promova uma conversa coletiva reforçando a importância de compartilhar sentimentos. Explique que falar sobre o medo e contar com o apoio dos amigos e familiares pode ajudar a enfrentá-lo. Finalize com um gesto simbólico: cada criança pode escolher um desenho e deixar um bilhetinho com uma palavra de incentivo para o colega, como “Você é corajoso!” ou “Se precisar, estou aqui para ajudar!”

Para ampliar o repertório

Dos estudantes

Para complementar o livro Quer chá?, sugerimos duas outras obras da Editora Via Lúdica:

Lobo Breu (2024), de Chiara Ravizza e Susanna Covelli, sobre medo do escuro na hora de dormir.

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O lobo medroso (2024), de Giulia Pesavento e Susy Zanella, sobre um lobinho que tinha muito medo e o que ele fez para enfrentar.

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Outra sugestão de material complementar é a música Miedo, de Lenine e Julieta Venegas, uma música bilíngue (espanhol e português) que lista diversos medos. O refrão – “tenho o medo do medo que dá” – cria a percepção de que, muitas vezes, temos medo justamente de sentir medo.

Disponível em: https://linkja.net/YouTube_Miedo.

Dos professores

O medo é um afeto fundamental da experiência humana, influenciando nossas reações e interações desde a infância até a vida adulta. Segundo o psicanalista Christian Dunker (2018), esse sentimento está presente em todas as fases da vida e pode ser ressignificado por meio do acolhimento e do diálogo. A forma como lidamos com o medo reflete-se em nossa socialização, impactando nossa maneira de enfrentar desafios e interagir com os outros. Em um contexto social e político marcado por polarizações, compreender o medo e sua função pode nos ajudar a desenvolver relações mais saudáveis e empáticas.

Para aprofundar essa reflexão, sugerimos a leitura completa do artigo Precisamos falar sobre medo: uma conversa com Christian Dunker, disponível no portal Lunetas.

Disponível em: https://linkja.net/Portal_Lunetas.

Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:

Referências

DUNKER, C. Precisamos falar sobre medo: uma conversa com Christian Dunker. Lunetas, 2018.
Disponível em: https://linkja.net/Portal_Lunetas. Acesso em: 3 fev. 2025.

MIEDO. Intérpretes: Lenine; Julieta Venegas. Gerard “GMusic TV”: [s. n.], 2013.
Disponível em: https://linkja.net/YouTube_Miedo. Acesso em: 3 fev. 2025.

PESAVENTO, G. O lobo medroso. Tradução de Janette Tavano; ilustrações de Susy Zanella. 1. ed. São Paulo: Editora Via Lúdica, 2024.

RAVIZZA, C. Lobo Breu. Tradução de Michaella Pivetti; ilustrações de Susanna Covelli. 1. ed. São Paulo: Editora Via Lúdica, 2024.

UNA-SUS. Formas de preparo dos chás. Disponível em: https://linkja.net/UNA-SUS. Acesso em: 30 dez. 2024.

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