O corvo Rosa é uma delicada e gentil história de uma família não tradicional. Nessa narrativa, o calor, o comprometimento com
a alteridade e a importância dada ao pertencimento reforçam que a família é um exercício contínuo de apoio e compromisso mútuo. Não importa como a família é estruturada; o que importa é que ela seja um ninho amoroso e solidário para seus membros.
Este Roteiro de Leitura inclui sugestões de atividades de leitura e colagem, glossário e dicas para dar início a reflexões sobre a diversidade, a alteridade e o pertencimento.
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Para compreender melhor as temáticas abordadas no roteiro, é importante refletir sobre o pertencimento como um desejo fundamentalmente humano, associado à necessidade de aprovação, reconhecimento e à formação de vínculos sociais. O conceito de pertencimento está diretamente relacionado às ideias de alteridade e identidade, pois, para pertencer, é essencial saber quem somos e aceitar, com respeito, a existência do outro.
Com o intuito de aprofundar essa reflexão, sugerimos a leitura da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, da UNESCO. Além disso, recomendamos uma apreciação da letra e da canção Meu País, de Ivan Lins, que traz perspectivas valiosas para enriquecer essa discussão.
https://linkja.net/meu-pais
Para saber mais
“Pertencimento é aquela percepção de alguém fazer parte de uma comunidade, de uma família, de um grupo, de uma nação. Ele está muito ligado ao reconhecimento e a como um cidadão tem respeitadas a sua dignidade, a sua cultura e as suas diferenças”, explica Miriam Debieux Rosa, professora titular do Instituto de Psicologia da USP e coordenadora do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política da USP.
Já alteridade é a qualidade ou o estado do que é outro ou do que é diferente. Está relacionada com a capacidade de perceber a si mesmo ou o próprio grupo social, não como o padrão, mas também como o outro.
A identidade é o conjunto de características próprias de um indivíduo ou um grupo. O indivíduo forma sua própria personalidade, mas também a recebe do meio, no qual realiza sua interação social. Dessa forma, pode-se dizer que a identidade é a relação entre membros da mesma cultura.
Dica
Para se preparar, separe folhas de sulfite na quantidade correspondente ao número de estudantes da sua turma. Em cada folha, escreva o nome de um estudante bem pequenininho. Em seguida, recorte cada folha ao redor do nome, deixando o formato de um ovo gigante.
Reserve também um mural ou uma folha grande, como papel kraft, para montar um “ninho” no qual os ovos serão colocados.
Para trabalhar o tema central da obra, o pertencimento, sugerimos uma atividade que ajude os estudantes a reconhecer sua individualidade e, ao mesmo tempo, perceber como fazem parte do grupo.
1. Entregue a cada criança uma folha de sulfite previamente cortada no formato de um ovo e identificada com o nome do estudante escrito de modo bem pequeno.
2. Explique que, nessa folha, cada estudante deve escrever o próprio nome em letras grandes e fazer um desenho que o represente ou que ele ache especial.
3. Após todos finalizarem, convide-os, em ordem alfabética, a colar suas folhas em um mural ou uma folha grande (como papel kraft), criando juntos o “ninho da turma”.
A disposição das folhas deve formar um ninho coletivo, representando o grupo e reforçando o senso de pertencimento, como ilustrado na imagem a seguir.
Depois de concluída a colagem, reúna os estudantes e promova uma conversa sobre o significado da atividade. Pergunte como eles se sentiram ao expressar sua identidade única por meio do desenho e da escrita do próprio nome.
Em seguida, reflita junto com eles sobre o mural formado e como a junção de cada “ovo” contribuiu para criar algo maior e significativo: o ninho da turma. Estimule a discussão sobre a importância de pertencer a um grupo, respeitando as diferenças individuais e reconhecendo o valor que cada um traz para o coletivo.
Essa troca pode fortalecer a percepção de pertencimento e reforçar o vínculo entre os estudantes.
Para dar início à familiarização com a obra, sugerimos que apresente a capa e faça as seguintes questões disparadoras:
• Quem vocês acham que está na capa do livro? O que essas aves podem representar?
• Que cores vocês veem na capa? As aves são todas da mesma cor ou há alguma diferente?
• De que tipo de foto a imagem da capa nos lembra? Vocês acham que é uma foto de família ou de amigos? Por quê?
• Qual é a palavra que aparece em destaque na capa? Em que cor ela está escrita? Alguém sabe
o que ela significa?
• Quem será (ou onde estaria) o corvo Rosa? O que acham que ele pode nos ensinar?
Após essas perguntas, as crianças podem identificar que a capa do livro mostra corvos e podem interpretar as aves como símbolos de uma família ou um grupo de amigos. Elas podem notar que uma das aves é diferente e sugerir que isso indica algo especial sobre a história. Também podem observar a palavra “rosa”, imaginando se tratar de uma cor, uma flor ou um nome, e levantar hipóteses sobre quem é o corvo Rosa e o que ele representa.
Essas reflexões ajudam a despertar a curiosidade sobre o tema central da história, como o pertencimento e a aceitação das diferenças, preparando o grupo para mergulhar na narrativa.
Em seguida, mostre a página adiante e pergunte:
• Será que o livro conta uma história de gente ou de bicho?
A pergunta tem como objetivo estimular os estudantes a observar as diferenças destacadas nas imagens, como ovo rosa e uma pessoa saindo dele. Não existe uma resposta certa ou errada. Alguns podem interpretar que é uma história de bichos, já que eles aparecem em maior número, enquanto outros podem enxergar uma história de humanos, pois o diferente é uma pessoa e humanos, entre outras coisas, têm a capacidade de contar histórias.
Acolha todas as hipóteses com atenção e guarde-as para serem revisitadas ao final da leitura, promovendo uma reflexão com base na história completa.
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Indícios de quem conta
É importante destacar que Rosa é a narradora da história. Assim, logo nos primeiros trechos da leitura, você pode questionar:
• Quem vocês acham que está contando a história?
Entretanto, essa resposta só será claramente revelada ao longo da narrativa, especialmente no final, uma vez que, desde o início, a família ou o grupo aparece de forma muito unida, dificultando a identificação de quem está falando.
Esperamos que, ao longo da leitura, os estudantes percebam que Rosa é a narradora, com base em elementos que podem ser identificados nas imagens a seguir. Dessa forma, é possível reforçar que, apesar de diferente, a voz de Rosa foi ouvida, respeitada e acolhida.
Afetos que colam a vida
Ao longo da obra, a ilustração é composta por diferentes tipos de colagem: páginas escritas rasgadas, letras recortadas, papéis coloridos formando imagens ou bordas, além de colagens eletrônicas de imagens recorrentes. Essas colagens não são apenas elementos visuais, mas também simbolizam como os relacionamentos humanos se constroem de maneira gradual. Cada pessoa, com suas contribuições únicas, vai lentamente formando, por meio de suas experiências e ações, a identidade, o pertencimento e a diversidade do grupo.
Assim como nas ilustrações da obra, cada entrega feita por um indivíduo fortalece sua própria individualidade, mas também fortalece o grupo, tornando-o mais unido e acolhedor. Nesse contexto, o ninho, como um símbolo de acolhimento, representa essa união. Durante a leitura, você pode fazer os seguintes destaques, pensando nas entregas da protagonista:
1. Quando a família está reunida, as palavras que cercam o ninho transmitem o calor de um diálogo implícito, um afeto que vai sendo tecido pouco a pouco, como as colagens que formam a imagem final.
2. Entrega-se à própria alegria e à disposição para participar plenamente da brincadeira.
3. Permanece atenta à segurança do grupo.
4. Tenta ter as mesmas habilidades e falar a mesma língua do grupo.
Assim, a obra nos ensina que, como nas colagens, cada contribuição pessoal, por menor que seja, é funda-mental para formar um todo. O processo de pertencimento, de se integrar e fortalecer laços com o grupo, é construído com afeto e dedicação. À medida que cada personagem entrega um pedaço de si, a família e o grupo se tornam mais coesos e acolhedores. Essa dinâmica de troca e colaboração é o que, finalmente, mantém o grupo unido e protegido, como o ninho que envolve todos.
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Para o momento de diálogo e acolhimento, aqui estão algumas perguntas que podem criar laços significativos com a narrativa e estimular reflexões sobre a obra:
• A família do corvo Rosa era feliz?
• Ao final, Rosa se apresenta como um corvo rosa para o sapo Rudi. O que vocês acham que faz Rosa se sentir um corvo?
• Rosa não pôde aprender a voar porque não tem asas. No entanto, ela usou suas pernas e seus braços para escalar e continuar ajudando a família a encontrar alimentos. Em breve, aprenderá a nadar para conquistar outros espaços no mundo. O que vocês acham disso?
• Rosa é muito talentosa e dá mais importância aos seus talentos do que às suas dificuldades ou limitações. Vocês concordam com ela?
• Qual é o seu talento na vida cotidiana?
As crianças podem responder que são boas companheiras para os irmãos ou que cuidam bem dos animais de estimação, oferecendo comida e água. Podem também falar sobre como são carinhosas com os pais ou como gostam de conversar com os avós. Outros podem dizer que sabem realizar tarefas como secar a louça ou organizar rapidamente os brinquedos.
Essas reflexões ajudam a valorizar as contribuições individuais dentro do grupo, reforçando o tema do pertencimento e a importância de cada pessoa no fortalecimento do coletivo.
ATIVIDADES
Criando os crachás de identidade
A proposta é trabalhar os conceitos de identidade e pertencimento por meio da atividade de criação de cra-chás personalizados, inspirada nas colagens presentes na obra O corvo Rosa. A ideia é que os estudantes, ao confeccionar seus próprios crachás, compreendam a importância das contribuições individuais para a formação do grupo, assim como a obra transmite a partir das suas imagens coladas.
1. Preparação do material: distribua a cada estudante um pedaço de folha de papel sulfite (¼ de folha), no qual eles devem escrever o próprio nome utilizando uma letra em cada quadradinho.
2. Colagem criativa: abaixo do nome, deixe os quadradinhos vazios para que os estudantes possam completar com letras maiúsculas e minúsculas recortadas de revistas e outros materiais impressos, como jornais ou catálogos. A proposta é que eles escolham, recortem e colem as letras de forma criativa, de modo que reflitam sua própria identidade e como ela se conecta com os outros. Esse momento de colagem será uma oportunidade para pensarem em como pequenos detalhes constroem a singularidade de cada um, mas também formam uma unidade coletiva.
3. Montagem do crachá: depois que os estudantes terminarem a colagem, você deve furar o topo de cada folha e amarrar um barbante, criando o crachá para ser usado no pescoço das crianças.
Essa atividade permite que as crianças se expressem de forma criativa, ao mesmo tempo que refletem sobre a ideia de identidade, pertencimento e a contribuição individual para um coletivo. O uso de letras recortadas de diferentes fontes simboliza como as diferentes experiências e histórias de vida de cada um se juntam para formar algo único, mas que ainda se conecta com o grupo.
Lembrancinhas
O quadro Sonho de valsa (2004), de Beatriz Milhazes, foi criado com a técnica colagem. Para produzi-lo, a artista brasileira guardou e recolheu com amigos papéis de bombons de diferentes lugares do mundo.
Apresente a obra e sua história para os estudantes como inspiração. A partir dela, oriente a turma a guardar e recolher “lembrancinhas” (como embalagens, tíquetes, papéis coloridos, fitas, adesivos e outras imagens) durante uma semana. Então, organize uma oficina para que os estudantes criem suas próprias obras de arte.
Colando diversidade
Helga Bansch, autora e ilustradora de O corvo Rosa, é uma artista austríaca amplamente reconhecida por suas obras premiadas. Sua sensibilidade e sua experiência com crianças dos anos iniciais conferem aos seus livros uma atmosfera acolhedora e respeitosa, ideal para abordar temas como pertencimento e alteridade. Inspirados por essa perspectiva, propomos a criação de um álbum coletivo da turma, com a participação das famílias, para explorar esses conceitos de forma colaborativa e criativa.
Passos para a atividade:
1. Envio de carta para as famílias
Prepare uma carta explicando sobre a leitura do livro O corvo Rosa e como ele aborda a importância do pertencimento e do respeito às diferenças. Solicite às famílias que enviem para a escola uma cópia de uma foto do estudante, a qual será utilizada na atividade.
2. Intervenção criativa nas fotos
Em sala de aula, oriente os estudantes a personalizar suas fotos utilizando diversos materiais. Sugira o uso de colagens com diferentes texturas (como pedaços de tecido, papel colorido, lantejoulas, etc.), além de pintura com canetinhas, giz de cera, lápis de cor e outros materiais artísticos. A ideia é que cada criança transforme sua foto em uma obra única, refletindo sua individualidade.
3. Montagem do álbum coletivo
Após a personalização das fotos, reúna todas as imagens em um grande álbum coletivo. Você pode encadernar as páginas ou organizar as imagens em um mural que ficará exposto na sala de aula. Certifique-se de que cada criança tenha um espaço onde sua criação seja valorizada como parte do todo.
Dos estudantes
Para ampliar a discussão sobre respeito à alteridade, empatia e pertencimento, sugerimos a exibição da animação Os Boxtrolls. Com base no livro infantil Here Be Monsters, de Alan Snow, o filme conta a história de uma comunidade peculiar que vive nos subterrâneos e demonstra extraordinária empatia ao acolher Ovo, um bebê humano, mesmo sendo completamente diferente das demais criaturas.
A narrativa apresenta muitas conexões com O corvo Rosa. Os talentos e a engenhosidade que permitem a Rosa viver plenamente com sua família são também valores fundamentais na jornada dos Boxtrolls. Por meio dessa animação, é possível incentivar reflexões com as crianças sobre como o acolhimento às diferenças enriquece as relações e garante a dignidade de cada indivíduo.
O trailer está disponível em: https://linkja.net/os-boxtrolls.
Dos professores
Para ampliar as reflexões sobre o tema do pertencimento, sugerimos a exibição do vídeo Pertencimento: a arte de saber fazer parte, da professora e filósofa Lúcia Helena Galvão. Nesse vídeo, disponível no YouTube, a autora explora de forma profunda e esclarecedora o conceito de pertencimento e suas implicações nas di-versas áreas da vida humana.
A partir dessa apresentação, é possível promover um diálogo significativo com as crianças, que as ajude a compreender como o senso de pertencimento é fundamental para a formação das relações humanas, incen-tivando atitudes de empatia, acolhimento e respeito às diferenças.
Você pode acessá-lo aqui: https://linkja.net/pertencimento.
Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:
Referências
COLAGEM. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024.
Disponível em: https://linkja.net/colagem. Acesso em: 6 nov. 2024.
ESTANISLAU. Júlia. “O que é sentimento de pertencimento”. Jornal da USP. Disponível em https://linkja.net/oque-e-pertencimento. Acesso em: 6 nov. 2024.
ITAÚ CULTURAL. Sonho de valsa. Disponível em: https://linkja.net/sonho-de-valsa. Acesso em: 10 dez. 2024.
MEU país. Ivan Lins. Compositores: Ivan Lins e Vitor Martins. In: Awa Iyo, Rio de Janeiro: Velas, 1993.
NOVA ACRÓPOLE BRASIL. Pertencimento: a arte de saber fazer parte. YouTube. 1 vídeo (48min 34s). Publicado em: 24 mar. 2023. Disponível em: https://linkja.net/pertencimento. Acesso em: 11 dez. 2024.
OS BOXTROLLS. Direção: Graham Annable
Anthony Stacchi. EUA: Laika Studio, 2014. YouTube. 1 vídeo (2min 35s). Publicado em: 11 jun. 2014. Disponível em:
https://linkja.net/os-boxtrolls. Acesso em: 11 dez. 2024.