Na sala de aula

ROTEIRO DE LEITURA

capa eu alfonsina

Eu, Alfonsina

Joan Negrescolor
Joan Negrescolor
Tradução: -
Gênero: Biografia
Idade: 11 anos
Segmento: Literatura Juvenil
Tema: Mulheres

Eu, Alfonsina é uma obra que apresenta uma história de resistência e coragem. As ilustrações das duplas de páginas envolvem o leitor diante dos obstáculos enfrentados por uma mulher que queria apenas pedalar e ser livre. Diante de uma história recheada de personagens e cores, descobrimos junto com ela tudo aquilo de que ela precisa para dar conta desse objetivo. E podemos nos maravilhar com as belíssimas ilustrações de Joan Negrescolor e a atmosfera que ele constrói para a narrativa.

Neste Roteiro de leitura, vamos explorar com os estudantes aspectos sobre a leitura visual das imagens e suas contribuições para a obra, bem como refletir sobre a importância do protagonismo de algumas mulheres para realizar transformações sociais.

Antes da leitura

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Antes de iniciar a leitura, reúna o grupo e construa um percurso de reflexão retomando situações que hoje vivemos e observamos com naturalidade, mas que nem sempre funcionaram assim. Para isso, sugerimos algumas questões:

• Primeiro, eu gostaria de saber: quem do grupo já sabe andar de bicicleta?

• Alguém poderia nos contar como foi que aprendeu a andar? Foi fácil? Difícil?

• Quem ensinou?

• Quem de vocês ganhou uma bicicleta e quem usa emprestada?

• Normalmente, que roupas vocês usam para andar de bicicleta? Por quê?

• Como será que as mulheres faziam para conseguir andar de bicicleta antigamente? Será que elas conseguiam?

O intuito dessas questões é sensibilizar os estudantes para as diferenças que poderão encontrar entre suas experiências pessoais com a bicicleta e as vivências de Alfonsina. Escolha apenas dois ou três deles para contar suas histórias, de forma que a atividade não fique tão longa.

Observe junto com o grupo as diferenças entre cada vivência compartilhada. Caso tenha uma história pessoal interessante ou curiosa, compartilhe com o grupo de forma a colaborar com a construção de um ambiente em que você também atue como leitor da obra.

Mostre aos estudantes a capa do livro, explorando as informações presentes. Por meio de perguntas, procure analisar aspectos importantes da capa que podem nos trazer pistas sobre a história que será lida.

• Como está a mulher que aparece na capa?

• O que vocês imaginam sobre ela a partir da visualização dessa imagem?

Escute as respostas dadas por eles e acolha, neste momento inicial, as diferentes ideias que possam surgir com base na leitura visual da capa. Em seguida, mostre a contracapa da obra. Apresente apenas as ilustrações, sem ler o texto de quarta capa, para que a investigação sobre o enredo do livro perma­neça em aberto.

• O que vocês estão vendo na contracapa?

• Como estão as crianças?

• Há pessoas que parecem mais velhas?

• Como elas se comportam?

• Alguém tem alguma ideia sobre por que as pessoas mais velhas estão se comportando assim?

Tais perguntas podem ajudar os estudantes a explorar ideias iniciais sobre as dificuldades encontradas na época para andar de bicicleta, já que uma pessoa adulta da ilustração parece dar uma bronca em alguém.  No entanto, há outra ilustração em que uma mulher adulta apenas observa. Veja se eles notam essa diferen­ça. Escute as proposições e ideias do grupo criando um ambiente aberto e estimulando, assim, o interesse pela escuta da história.

Para saber mais

Rosa Maria “Alfonsina” Morini é o nome completo de Alfonsina. Ela nasceu em Castelfranco Emilia, uma província de Módena, na Itália. Foi a segunda filha em uma família de dez filhos que vivia no campo. Ao contrário do que mostra o livro, Alfonsina ganhou de presente de aniversário uma bicicleta de seus pais. A partir daí, começou a pedalar e competir. Mas tinha que fazê-lo de forma escondida, pois seus pais não concordavam com isso. Aos 14 anos, Alfonsina casou-se com Luigi Strada. Ganhou de presente de casamento uma bicicleta e seguiu pedalando em direção a seus sonhos. Seu marido foi também seu primeiro empresário (Correio Braziliense, 2020).

Durante a leitura

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Dica

Este é um livro em que tanto o texto verbal como as ilustrações trazem informações relevantes para a compreensão da narrativa. Sugerimos que você faça a leitura em voz alta com a turma, evidenciando a interpretação dos textos escritos e visuais, mas também propondo discussões a respeito da temática abordada pela obra.

Após a mediação de leitura, é importante deixar o livro disponível para que em outro momento os estudantes possam fazer leituras individuais. Há muito para ser visto e interpretado nas ilustrações, e é possível que eles queiram, em seu tempo, retomar a leitura novamente.

Interpretando a ilustração

Em Eu, Alfonsina, as ilustrações acrescentam camadas de significação ao texto, e desvendar esses significa­dos em conjunto com os estudantes é um excelente momento formativo. Dessa forma, é importante que todos possam visualizar bem as imagens das duplas de páginas. Na quarta dupla de páginas, o livro nos informa pelo texto apenas que a bicicleta era “Muito mais rápida do que eu”. Porém, as ilustrações e duas frases que aparecem em outra cor, no canto direito da página, nos contam algo mais. Explore esta passagem com a turma:

eu alfonsina roteiro de leitura 01

• Como estão as pessoas em volta de Alfonsina?

• Qual parte da ilustração os fez pensar nisso?

Tais questões podem despertar os estudantes para o momento da leitura visual, que ocorre de maneira natural e simultânea à leitura do texto. É possível que os estudantes respondam que as pessoas estão agitadas, gritando e hostilizando-­a. Que fazem sinais e gestos, alguns bastante agressivos, como no caso do menino que abaixa a calça.

Ao fazer a pergunta “Que parte da ilustração os fez pensar nisso?”, você ajuda os estudantes a identificar na ilustração aquilo que permitiu tal análise. Dessa forma, quando direcionamos o olhar para nos aprofundarmos nessa interpretação, criamos oportunidades para que eles percebam quais ferramentas utilizaram naquela leitura. Essa percepção, ao ser interiorizada, pode ser replicada em outras leituras e momentos, reforçando suas habilidades como leitores literários.

• Por que será que as pessoas estão dessa forma?

• E Alfonsina, como parece reagir?

Com essas questões, os estudantes poderão começar a construir uma hipótese em relação à questão de gê­nero. Eles poderão responder que as pessoas na narrativa estão chocadas com a atitude de Alfonsina. E que ela, no entanto, aparenta estar bastante tranquila.

Tudo aquilo que podemos dizer com as imagens

Seguindo na leitura, sugerimos uma parada em outra dupla de páginas. Aqui, no texto verbal lemos: “… e desde então nunca mais parei de pedalar”. A ilustração, no entanto, nos diz tantas outras coisas: ela repre­senta o momento em que todos os aparatos que Alfonsina usava saem voando do seu corpo enquanto ela novamente aparece com seu vestido de menina.

eu alfonsina roteiro de leitura 02

• O que aconteceu nesta parte?

• Quais objetos estão voando?

• Como está Alfonsina?

• Quais cores estão sendo usadas e qual é o efeito que provocam?

Com essas questões, salientamos a importância da lei­tura visual e das interpretações que os estudantes po­dem fazer a partir delas. É possível que eles tragam per­cepções sobre a calça, as botas, o chapéu e o bigode, que voam por entre pássaros, remetendo à liberdade. É possí­vel também que percebam que agora Alfonsina voltou a aparecer de vestido, o que nos dá a ideia de que ela agora pode pedalar e continuar sendo quem é, sem precisar de ob­jetos que não são seus. Reforce com eles essas interpretações e escute outras que possam surgir.

Para saber mais

Conheça uma das definições de “livro ilustrado” feita pela pesquisadora Sophie Van der Linden:

“[…] de imediato o livro ilustrado evoca duas linguagens: o texto e a imagem. Quando as imagens propõem uma significação articulada com a do texto, ou seja, não são redundantes à narrativa, a leitura do livro ilustrado solicita apreensão conjunta daquilo que está escrito e daquilo que é mostrado” (2011, p. 8).

Após a leitura

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Após a leitura, observe a reação dos estudantes e deixe um espaço aberto para que possam trazer sensações iniciais depois de conhecer o desfecho da história. Você pode iniciar a conversa perguntando:

• Por que é importante que a gente conheça histórias como a de Alfonsina?

• Alguém se lembra de alguma história parecida com essa?

• Como o protagonismo dela fica evidente no livro?

A partir dessas indagações, é possível que os estudantes tragam depoimentos e reflexões sobre a importância do protagonismo e da coragem de algumas pessoas para que barreiras se rompam e to­dos possam ter direitos iguais, além de conectar o protagonismo da personagem ao fato de o texto ter sido escrito em primeira pessoa.

Escute as histórias que surgem, perceba como se aproximam da narrativa do livro e, posteriormente, amplie a discussão com mais algumas questões motivadoras:

Glossário

Pro-ta-go-nis-mo

1. Desempenho do papel de protagonista (de peça teatral, filme, série televisiva, livro, etc.).

2. Qualidade do que se destaca em qualquer acontecimento, área ou situação (ex.: o atleta obteve um protagonismo inesperado).

(Priberam, 2025)

• Como vocês se sentiram após conhecerem essa história real?

• Alguém lembra de uma história que de alguma forma se assemelha à história de Alfonsina, em que uma mulher tem grande protagonismo?

• E o que acharam de ler um livro com tantas ilustrações?

O intuito das duas primeiras perguntas é despertar a reflexão para a potência das narrativas autobiográficas. É possível que os estudantes tragam percepções sobre se sentirem mais tocados ao saber que se trata de uma história real, e não inventada. Além disso, podem dividir com os colegas outras histórias de protagonismo feminino que conhecem, ampliando o repertório da turma sobre o assunto.

A última questão pode estimular que reflitam sobre um certo preconceito em relação aos livros com ilustração, como se fossem apenas livros para crianças menores. Converse com os estudantes sobre isso, comentando que os livros que seguem esse formato podem impactar leitores de diferentes idades. Pode ser também que os estudantes retomem alguma sensação relacionada à análise das ilustrações, comentando que é possível identificar questões centrais da narrativa a partir delas.

ATIVIDADES

Rompendo (minhas) barreiras

Nesta atividade, sugerimos que você explore com os estudantes os efeitos de sentido da narração em primeira pessoa. Essa reflexão pode ser iniciada a partir de algumas questões:

• Quem está nos contando esta história? Vamos identificar relendo alguns trechos da obra?

• No caso desta história, vocês acham mais interessante que seja um narrador em primeira pes­soa? Por quê?

• Alguém tem uma ideia diferente?

• Alguém conhece outro texto em primeira pessoa?

Tais perguntas poderão fazer com que os estudantes reflitam sobre a estratégia de utilizar um narrador em primeira pessoa, compreendendo mais sobre esse recurso literário ao mesmo tempo que compreendem mais sobre a leitura da obra. É possível que surjam outras questões interessantes a partir das colocações dos es­tudantes. Fique à vontade para construir um percurso de reflexão a partir delas.

É importante destacar a abertura para a expressão da personagem e a conexão com o leitor nas obras em que podemos identificar o uso da narração em primeira pessoa. Em seguida, proponha que os estudantes produzam um texto de cunho autobiográfico.

Sugerimos que o exercício de escrita seja feito a partir da exploração de uma situação que os estudantes tenham vivido. Assim, cada um deve escolher um momento em que tenha experienciado algo desafiador, rompendo barreiras sociais ou até individuais. O texto pode ser curto, com apenas uma página.

Para saber mais

“AUTOBIOGRAFIA (v. BIOGRAFIA): narração (v.) sobre a vida de um indivíduo, escrita pelo próprio, sob forma documental, ou seja, é uma prosa que uma pessoa real faz de sua própria existência, acentuando a vida individual, em particular, sobre a história de sua personalidade. Como as ‘propriedades discursivas’ definem um gênero discursivo, seja ele literário, seja ele não literário, a autobiografia se distingue do romance (v.) pelo fato de o autor pretender contar fatos e não ficções. Outra propriedade discursiva importante é a coincidência entre ‘autor e narrador e do autor com a personagem principal’” (Costa, 2014).

Tudo aquilo que podemos deixar para trás

Nesta proposta, leve os estudantes a refletir sobre suas percepções individuais a respeito da liberdade  e da persistência. Inicialmente, explore com a turma quais cores o autor utilizou para elaborar as ilustrações, evidenciando que se trata de uma mesma paleta que se repete em múltiplas combinações. Dessa forma, observamos sempre os mesmos tons de amarelo, verde, azul, vermelho, assim como alguns tons de cinza, preto e branco.

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Em seguida, pergunte:

• Vocês conseguem se imaginar tal qual Alfonsina, isto é, voando, conseguindo algo que gosta­riam de ter e deixando voar aquilo de que não precisam mais?

• Alguém poderia me dizer algo que gostaria de deixar voar, deixar ir embora?

A proposta agora é que cada estudante elabore individualmente um desenho representando esse momento, em que tudo aquilo que não é efetivamente seu, ou que você não quer mais guardar, possa se desprender do seu corpo e voar.

Antes de iniciar o exercício, pense em um exemplo seu para contar aos estudantes, dando mais materialidade à proposta. Para fazer o desenho, informe que os estudantes poderão utilizar apenas o preto e mais quatro cores. Informe também que é interessante que representem no desenho elementos do céu, assim como ve­mos na obra de Joan Negrescolor.

Texto e imagem na produção dos estudantes

Ao final deste percurso, os estudantes terão elaborado um texto autobiográfico abordando questões pessoais sobre um momento da vida em que tenham realizado algo desafiador. Já na produção visual, o foco terá sido em elementos que os estudantes gostariam de deixar para trás.

Sugerimos que você faça uma pequena publicação, no formato de um livro, em que a dupla de páginas seja formada por esse texto autobiográfico e pela ilustração elaborada pelos estudantes.

Aproveite um momento com o grupo todo para decidirem coletivamente o título do livro. Peça que eles se organizem em grupos com quatro componentes. Cada grupo pode criar uma sugestão de título. Em seguida, faça uma votação. Convide os familiares e outros grupos da escola para conhecer a produção.

Para ampliar o repertório

Dos estudantes

Sugerimos pesquisar iniciativas premiadas e conhecer o projeto Criativos da Escola, do Instituto Alana, que tem como propósito: “encorajar crianças e adolescentes a mudarem suas realidades, reconhecendo­os como protagonistas e fortalecendo seu efetivo direito à participação”.

Disponível em: https://criativosdaescola.com.br/.

Dos professores

O documentário Como ela faz?, dirigido por Tatiana Vilela, foi exibido pela TV Cultura no Especial Dia das Mulheres e está disponível no YouTube. O vídeo retrata a rotina de doze mulheres com as dificuldades e os desafios que encontram em seu cotidiano.

Disponível em: https://linkja.net/dia­das­mulheres­YouTube.

Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:

Referências

CORREIO BRAZILIENSE. Pedaladas contra o machismo. Correio Braziliense, 2020.
Disponível em: https://linkja.net/pedaladas­contra­o­machismo. Acesso em: 28 mar. 2025.

COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 3. ed. rev. ampl.; 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

CRIATIVOS DA ESCOLA. Instituto Alana | Design for Change. Disponível em: https://criativosdaescola.com.br/. Acesso em: 11 abr. 2025.

NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro ilustrado: palavra e imagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2011.

PROTAGONISMO. In: PRIBERAM, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [on­line], 2008­2025.
Disponível em: https://dicionario.priberam.org/protagonismo. Acesso em: 1 abr. 2025.

TV CULTURA. Especial Dia das Mulheres – Documentário “Como ela faz?” TV Cultura, 10 maio 2021. 1 vídeo (80 min). Disponível em: https://linkja.net/dia­das­mulheres­YouTube. Acesso em: 11 abr. 2025.

VAN DER LINDEN, Sophie. Para ler o livro ilustrado. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

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