Em Cantigas de invento, cantigas populares da tradição oral brasileira ganham novas versões mantendo o mesmo ritmo.
A partir de uma perspectiva criativa da autora e da ilustradora, cantigas são recriadas com desfechos inesperados e divertidos, convidando os leitores a explorar sonoridades familiares com a troca de algumas palavras. Será que é possível manter a rima mudando a narrativa? Brincar de rimar é uma proposta bastante interessante para as crianças que já começam uma aproximação autônoma com a leitura e a escrita. Relacionando isso aos textos curtos e bem-humorados, elaborados a partir de cantigas de tradição popular, este livro possibilita às crianças fazer novas conexões por meio de textos e sonoridades já conhecidas.
Neste roteiro, você encontrará sugestões de como ampliar a brincadeira proposta pela autora, proporcionando espaços de autoria para os estudantes, bem como instigando um olhar apurado para nossa cultura popular e as influências de outras culturas sobre a nossa.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Identificar o efeito de sentido produzido pelo uso de recursos expressivos gráfico-visuais em textos multissemióticos.
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Estabelecer expectativas em relação ao texto que vai ler (pressuposições antecipadoras dos sentidos, da forma e da função social do texto), apoiando-se em seus conhecimentos prévios sobre as condições de produção e recepção desse texto, o gênero, o suporte e o universo temático, bem como sobre saliências textuais, recursos gráficos, imagens, dados da própria obra (índice, prefácio, etc.), confirmando antecipações e inferências realizadas antes e durante a leitura de textos, checando a adequação das hipóteses realizadas.
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Dica
Antes de preparar a turma para a leitura, produza cartões ilustrados com elementos que os estudantes possam relacionar com as cantigas populares, que possivelmente já fazem parte do repertório cultural das crianças. O ideal é que as ilustrações sejam coladas em um papel colorido, pois elas ficarão viradas para baixo durante a proposta.
Algumas sugestões de ilustrações são:
– Barata (A barata diz que tem);
– Sapo (Sapo cururu e O sapo não lava o pé);
– Pomba branca (Pombinha branca);
– Limão (Meu limão, meu limoeiro);
– Caranguejo (Caranguejo não é peixe);
– Canoa (A canoa virou).
Além dos cartões, separe algum objeto que possa ser o candeeiro, como uma vela de LED, por exemplo.
Prepare o ambiente para receber a turma, coloque almofadas ou tapetes para organizar uma roda e, no centro dela, deixe os cartões virados com as ilustrações para baixo, em volta do objeto que será o candeeiro.
Para a familiarização com o tema, conduza os estudantes até a roda organizada previamente e compartilhe com eles a proposta, que se chama “Roda do candeeiro”. Você pode iniciar esse momento escutando com a turma a canção de Dona Ivone Lara, Candeeiro da vovó, e depois compartilhar as informações do box “Para saber mais”.
Para saber mais
– Do latim, “candela”, que significa “vela”, o candeeiro está relacionado à luz e à iluminação, simbolizando o conhecimento, a sabedoria e a clareza.
– Em diferentes culturas os candeeiros têm significados diversos. Por exemplo, na cultura africana podem representar orientação e proteção espiritual.
– Atualmente, eles são mais utilizados como objetos de decoração.
– Os candeeiros antigos eram feitos à mão, com materiais nobres, como bronze, ferro forjado e cristal (Westwing, 2024).
Na sequência, explique que, nessa roda, vocês irão cantar uma canção enquanto passam o candeeiro de mão em mão. Quando a canção parar, quem estiver segurando o candeeiro deve tirar um cartão do centro da roda e cantar a cantiga relacionada a ele. Inicie a proposta ensinando a canção para a turma:
“Anda roda candeeiro,
Anda roda sem cessar.
Onde o candeeiro parar
Uma cantiga vou relembrar.”
Repita a canção até que todos os cartões tenham sido revelados e as cantigas tenham sido relembradas pela turma. Caso algum estudante demonstre timidez na sua vez, você pode incentivar que todos cantem junto com vocês.
Em seguida, apresente o livro para a turma. Mostre a capa, depois vá até a página da biografia da autora e leia para os estudantes a última frase dela: “Cantar junto é plantar lembranças”. Após ler essa frase, sugerimos as questões disparadoras:
• Começamos esta roda cantando juntos. Que lembranças vocês acham que foram “plantadas” neste momento?
• Vocês já conheciam as cantigas que abriram nossa roda de leitura? Quem as ensinou para vocês?
• Observem a capa do livro, alguém quer tentar descobrir o título dele?
• A partir do título, conseguimos prever o que este livro irá nos apresentar?
• Alguém sabe o que significa a palavra “invento”?
• Que convite a ilustração da capa nos faz?
Com base nas respostas dos estudantes, sugerem-se questões secundárias a respeito das lembranças que foram plantadas nas experiências prévias vividas por eles com as cantigas exploradas no início da proposta.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, quadras, quadrinhas, parlendas, trava-línguas, dentre outros gêneros do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade.
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Apreciar poemas e outros textos versificados, observando rimas, sonoridades, jogos de palavras, reconhecendo seu pertencimento ao mundo imaginário e sua dimensão de encantamento, jogo e fruição.
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Ler ou cantar?
O livro é potente em sua construção, pois ele tanto pode ser explorado do ponto de vista literário, sendo lido de forma a aproveitar o texto e suas possibilidades interpretativas; como também pode ser cantado, aproveitando-se da estrutura das cantigas que serviram de base para a criação artística da autora. Sugerimos que a primeira condução seja feita por meio de uma leitura da obra, para que os estudantes observem as histórias contadas, visto que o texto conecta uma situação a outra, não deixando as cantigas isoladas entre si. Já uma segunda leitura pode explorar o ritmo das cantigas, proporcionando aos estudantes uma experiência musical e artística que lhes trará mais familiaridade com a obra, pois eles podem se animar para cantar junto e brincar com as novas versões.
Dica
Para a mediação, sugerimos uma leitura tendo o professor como modelo leitor, passível de pequenas pausas para a comparação entre as cantigas populares e as novas versões propostas no livro, bem como para a percepção de elementos não verbais ilustrativos.
Comparando versões
É bem provável que, assim que o livro começar a ser lido por você, os estudantes reconheçam as cantigas que serviram de inspiração para a autora. Contudo, ainda não dê foco à musicalidade do texto; de preferência, acolha a animação e o reconhecimento da turma, mas siga com a leitura. Ao final, pergunte aos estudantes se eles identificaram algo em comum entre o texto do livro e as cantigas exploradas na “Roda do candeeiro”. Proporcione um momento de interação e comparação, volte para as versões criadas pela autora e questione a turma sobre o que mudou, que novas palavras foram inseridas, que história foi inventada. Releia o título do livro para que os estudantes o conectem com as interpretações feitas aqui.
Roda, círculo, ciranda
Dentro da cultura brasileira, as cantigas estão intimamente ligadas à ideia de ciranda, com pessoas organizadas em uma grande roda para cantar e brincar. O movimento circular das cirandas é parte importante do livro, seja no texto (que conecta um elemento ao outro), seja na presença do círculo nas ilustrações. Compartilhe com a turma essas ideias e amplie com mais informações a respeito das cirandas, tão presentes na cultura nordestina do nosso país.
Posteriormente, retome a observação atenta das ilustrações para que os estudantes reconheçam esse movimento circular ou o próprio círculo presente nas imagens. Chame a atenção para o semicírculo e o círculo representados nos rostos das personagens que estão de perfil ou olhando para cima.
Padrões nas ilustrações
Aproveite e faça um convite aos estudantes para uma observação detalhada de algumas das ilustrações do livro, observando as escolhas artísticas da ilustradora, o uso das cores vibrantes, a utilização de outras formas geométricas, os padrões de repetição de elementos, etc. A repetição de elementos é bastante utilizada pela ilustradora, trazendo a ideia de movimento para o desenho.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Identificar e (re)produzir, em cantiga, quadras, quadrinhas, parlendas, trava-línguas e canções, rimas, aliterações, assonâncias, o ritmo de fala relacionado ao ritmo e à melodia das músicas e seus efeitos de sentido.
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Recitar parlendas, quadras, quadrinhas, trava-línguas, com entonação adequada e observando as rimas.
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Experimentar a criação em artes visuais de modo individual, coletivo e colaborativo, explorando diferentes espaços da escola e da comunidade.
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Após a leitura, é chegado o momento de acolhimento e diálogo a respeito da obra. Aproveite esse momento para uma escuta afetiva de como cada um dos estudantes se conectou com o livro. Para isso, sugerem-se algumas questões:
• Este é um livro de cantigas inventadas. Das versões que lemos, qual você achou mais criativa? Por quê?
• Fizemos dois tipos de leitura do livro: primeiro, lendo fluentemente, como ao ler uma narrativa; e, depois, cantando o texto no ritmo das cantigas. Que tipo de leitura foi mais interessante para vocês? Por quê?
A autora encerra o livro com o trecho:
“Ó Mariazinha!
Ó Mariazinha!
Entra, vai e volta
Inventa uma novinha!”
Pergunte:
• Esse convite feito pela autora para inventar novas cantigas é só para Mariazinha ou também para todos os leitores? Por que vocês pensam assim?
ATIVIDADES
Eu também invento
As cantigas são textos facilmente memorizáveis pelas crianças, pois apresentam letras relativa-mente simples, rimas e repetições. Além disso, são textos que podem ser adaptados em propos-tas de produção escrita, assim como foi feito no livro, utilizando-se a técnica do decalque.
Para saber mais
“O decalque possibilita concentrar-se no conteúdo temático, uma vez que a atividade consiste em retirar algumas palavras centrais de um texto já conhecido e pedir que as crianças as substituam, dando outro sentido a canções e poemas, por exemplo” (Yurie, 2023).
Organize a turma em pequenos grupos, a quantidade deve variar de acordo com a quantidade de cantigas que você pretende seguir utilizando nas próximas propostas. Os grupos devem ser formados por estudantes que possam se apoiar autonomamente nessa produção. Em seguida, convide cada grupo a escolher uma das cantigas populares cuja nova versão eles gostariam de criar. Se achar necessário, retome todas as cantigas apresentadas no livro, produzindo coletivamente uma lista no quadro da sala. O ideal é que cada grupo trabalhe com uma cantiga diferente, aproveitando a diversidade de textos.
Após escolherem as cantigas, defina com cada grupo qual será o trecho modificado. Por exemplo:
O grupo A escolheu a cantiga A barata diz que tem. Escreva em uma cartolina as duas versões do trecho escolhido, a versão popular e a versão do livro Cantigas de invento. Entregue as duas versões para que o grupo circule o que foi modificado entre elas. Por fim, proponha que, juntos, eles pensem em uma nova versão, alterando novamente esses trechos, mas agora usando a criatividade.
Veja que, neste caso, serão modificados integralmente os versos dois e quatro da cantiga:
“A BARATA DIZ QUE TEM
SETE SAIAS DE FILÓ
É MENTIRA DA BARATA
ELA TEM É UMA SÓ.“
“A BARATA DIZ QUE TEM
UMA ASA DE ESPADA
É MENTIRA DA BARATA
ELA TEM PELO NA PATA.“
Compartilhe com os estudantes a ideia de que esses novos trechos serão inseridos em um livro da turma. Peça para que eles sugiram nomes para esse livro, que será finalizado posteriormente.
Inventando mandalas
As mandalas são desenhos ou peças de arte em formato circular, preenchidas com diferentes combinações, mas que usam a repetição de elementos em formas geométricas, figuras humanas, elementos da natureza, repetição de cores, etc. Mostre alguns exemplos para a turma:
Retome com a turma a seguinte ilustração do livro:
Nela, vemos características presentes nas mandalas, como a repetição dos elementos, o uso da forma circular e o destaque ao centro do círculo. A combinação de cores também harmoniza a obra e ajuda a dar movimento.
Peça aos estudantes que olhem fixamente para a ilustração, tentando não piscar, para que observem esse movimento proposto. É interessante observar que nossa mente dá vida à ilustração, pois os elementos – como a forma circular, as crianças de mãos dadas e a ideia de uma ciranda – nos levam a refletir sobre a cena que está acontecendo.
Com os estudantes ainda organizados nos grupos, entregue uma folha de papel para cada um, convidando-os a criar suas próprias mandalas. Diga que podem se inspirar nas ilustrações feitas por Luci Sacoleira na obra lida, assim como devem levar em consideração a cantiga que criaram, pois as mandalas serão inseridas no livro da turma.
Cantiga infantil é puro invento
Assim que as produções feitas nas atividades anteriores estiverem prontas, organize a turma em roda e leve novamente o livro para o centro dela. Incentive os estudantes a observar todas as informações que encontramos em um livro, desde a capa até a contracapa. Você pode ir anotando esses elementos em uma folha para que sirva de planejamento para a confecção do livro da turma.
Inicie a produção do livro dividindo as funções entre os grupos. Um grupo pode ficar responsável por produzir a parte externa; outro, as informações internas que fazem parte de um livro; e outro grupo pode ser o que irá montar o livro fisicamente, juntando as demais produções. O ideal é que essa produção seja integralmente feita pelos estudantes junto com seu auxílio.
Depois de pronto, o livro pode ser dado de presente para a biblioteca da escola ou para alguma outra turma. Combine o destino do livro antecipadamente com as crianças.
Dos estudantes
Para complementar o repertório cultural dos estudantes, você pode começar a roda inicial com a música Candeeiro da vovó, da artista Dona Ivone Lara. A canção traz a história de um candeeiro, objeto simbólico que pertencia a sua avó angolana e é uma homenagem à ancestralidade e à herança cultural africana. Está disponível gratuitamente em streamings de música.
Link de acesso: https://linkja.net/Candeeiro_da_vovó.
Dos professores
As cirandas são parte importante da cultura brasileira; por meio delas, as cantigas são cantadas e brincadas, junto com danças corporais e a presença de instrumentos musicais. Amplie os conhecimentos culturais da turma apresentando esses conceitos, bem como a figura de Lia de Itamaracá, considerada patrimônio vivo da cultura nordestina brasileira e uma das principais artistas de ciranda do país.
Disponível em: https://linkja.net/Itau_Cultural.
Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:
Referências
CANDEEIRO: ambiente acolhedor com iluminação de estilo e beleza. Westwing. Disponível em: https://linkja.net/Candeeiro_Westwing. Acesso em: 29 nov. 2024.
ITAÚ CULTURAL. Pertencer à ciranda. Ocupação Lia de Itamaracá. São Paulo, 2022. Disponível em: https://linkja.net/Itau_Cultural. Acesso em: 29 nov. 2024.
LARA, Dona Ivone. Candeeiro da vovó. YouTube, 2011. 1 vídeo (4 min.). Disponível em: https://linkja.net/Candeeiro_da_vovó. Acesso em: 29 nov. 2024.
MACIEL, Débora Amorim da Costa. Cantar e brincar? É só começar! Cantiga popular. In: MENDONÇA, M. Diversidade textual: propostas para a sala de aula. CEEL/MAEC. Recife, 2008.
YURIE, Ingrid. Alfabetização: como conduzir o processo de ler e escrever. Nova Escola, São Paulo, 29 mar. 2023.
Disponível em: https://linkja.net/Nova_Escola. Acesso em: 29 nov. 2024.