Às vezes sou… coloca em escala o mundo que nos cerca, levando os leitores a comparar a imensidão do universo com a sua própria existência, ou ainda apurar o olhar para coisas minúsculas como as células, por exemplo. Por meio dessas análises de proporção, a criança vai descobrindo o mundo ao seu redor e sua relação com o outro. Somos do mesmo tamanho? Ocupamos os espaços da mesma forma?
Neste roteiro, você encontrará sugestões para expandir todas as potencialidades do livro, bem como para ampliar propostas que têm como foco central a temática das escalas. As linguagens científica e poética estão conectadas no livro de forma instigante. Sendo assim, por meio das atividades você poderá incentivar maior reflexão sobre essas diferentes linguagens, além de compartilhar as curiosidades dos leitores que possam surgir neste caminho.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Identificar e apreciar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, cultivando a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.
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Relacionar texto com ilustrações e outros recursos gráficos.
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Para a familiarização com o tema, apresente aos estudantes as duas fotografias a seguir e posteriormente faça as perguntas propostas.
• Vocês acham que foi utilizado algum tipo de inteligência artificial nessas fotos ou elas são reais?
• O que vocês observam nelas?
• Como vocês se sentiriam estando no mesmo lugar que a moça e o senhor?
• O que mais chama a atenção de vocês a respeito dos tamanhos das duas esculturas?
• Vocês sabem quem criou cada uma delas? Conhecem outras esculturas que brincam com os tamanhos de coisas reais?
As perguntas servem para captar as primeiras impressões dos estudantes a respeito dos tamanhos reais e irreais de objetos, seres ou coisas, sejam eles parte do dia a dia das crianças ou construídos como forma de arte, como no caso das esculturas do artista Ron Mueck.
Diante de um mundo imerso em inteligência artificial, pode ser que a princípio as crianças pensem que as imagens foram modificadas artificialmente; contudo, ao notarem que são imagens reais, é esperado que observem com detalhe a proporção de tamanhos diversos entre as pessoas reais, apreciando as obras e as proporções das criações do artista.
Para saber mais
Ron Mueck é um escultor australiano que “utiliza materiais como resina, fibra de vidro, silicone e acrílico para reproduzir fielmente cada detalhe da anatomia humana e construir esculturas que tematizam pinturas de vida e morte. Suas obras evocam uma espécie de realismo que é ao mesmo tempo íntimo e monumental. Em diferentes escalas, o artista amplia ou reduz muito o tamanho dos corpos para criar situações que movimentam o espectador” (Pinacoteca, 2014).
Além disso, convide os estudantes a falar sobre como se sentiriam ao lado dessas esculturas, pode ser que alguns deles digam que ficariam curiosos para tocar ou chegar mais perto para ver os detalhes, e outros podem dizer que teriam um pouco de medo ou incômodo. Caso eles saibam informações sobre o artista ou outros escultores que brincam com as escalas das coisas, convide-os a contar para a turma.
Por fim, compartilhe com a turma curiosidades a respeito do artista plástico que criou essas obras de arte. Comente que seus trabalhos já foram expostos no Brasil e pergunte como eles se sentiriam visitando uma exposição tão realista.
Após a reflexão inicial a respeito da proporção de tamanhos que as coisas têm ou como são criadas, bem como de um olhar inicial sobre a temática das escalas, apresente aos estudantes o livro Às vezes sou…
Comece abrindo o livro ao meio e mostrando ao mesmo tempo a capa e a contracapa, desta forma:
Convide voluntários da turma para ler em voz alta as informações que encontrarem, como título, de quem é a autoria, quem ilustrou, a editora, sinopse, etc. Posteriormente, questione:
• Foi tranquilo identificar do que trata o livro apenas pelo título ou foi preciso ter mais informações? Que informações foram mais necessárias na opinião de vocês?
• Qual é a relação da sinopse com as ilustrações?
Nesse processo inicial de análise do livro e das informações complementares que ele traz na capa e na contracapa, é esperado que os estudantes façam inferências a respeito da obra, mas as validem ou não utilizando informações concretas fornecidas na edição do livro. Além disso, em uma primeira aproximação com a obra, é esperado que as crianças compartilhem suas observações pessoais sobre conexões que fizeram entre as informações coletadas na sinopse e as ilustrações.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Identificar, em narrativas, cenário, personagem central, conflito gerador, resolução e o ponto de vista com base no qual histórias são narradas, diferenciando narrativas em primeira e terceira pessoas.
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Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.
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Dica
Para a mediação da leitura, sugerimos que o texto seja lido ao mesmo tempo que as ilustrações são apresentadas, pois as duas linguagens, visual e escrita, se complementam na construção da obra.
Às vezes sou cor…
No livro, as imagens foram compostas da combinação de apenas seis cores. Essas cores, sem efeitos de luz e sombra, são o ponto de destaque do trabalho do ilustrador, que por vezes se sobrepôs propositalmente às cores para demonstrar ao leitor como tudo no mundo está interligado. Por não apresentar detalhes em traços, sendo a cor o aspecto visual mais forte, as ilustrações ajudam a mostrar que, do universo ao átomo, tudo é feito da mesma “coisa”. Inclusive, em algumas páginas, não diferenciando forma e fundo.
Destaque algumas dessas ilustrações para os estudantes durante a leitura e leve-os a perceber a conexão que elas apresentam com a construção textual e a temática abordada no livro.
Escala é questão de perspectiva?
Ao longo da leitura do livro, é possível que os estudantes percebam que a história está sendo contada primeiro do ponto de vista do menino, que se vê pequeno diante das coisas do seu entorno; e, em seguida, do ponto de vista da menina, que se imagina grande diante de tantas outras coisas.
Observe se essa mudança de ponto de vista é observada por eles, caso não seja, detenha-se nessa dupla de páginas e questione se algo mudou na direção da narrativa a partir dela.
• Que lado seria esse que o menino diz?
Permita que os estudantes criem hipóteses a respeito desse questionamento e convide-os a seguir com a leitura para confirmar se elas se confirmaram. Pode ser que eles respondam que esse lado de lá é outra casa, bairro, cidade, país ou até mesmo outro universo.
Afinal, o que é escala?
Ao final da narrativa, a autora apresenta aos leitores algumas propostas relacionadas à escala das coisas; contudo, alguns estudantes podem ainda não ter compreendido o conceito de escala por meio das reflexões e propostas anteriores. Sendo assim, compartilhe com eles o significado da palavra escala, dando enfoque àqueles relacionados à temática do livro, e dedique um tempo de leitura coletiva para análise das páginas destacadas a seguir.
Glossário
es-ca-la
[…]
8. Conjunto de valores padronizados em função dos quais podem ser medidas grandezas da mesma natureza.
9. Proporção entre as medidas e distâncias de um desenho, planta ou mapa geográfico e as medidas ou distâncias reais correspondentes.
10. Linha ou faixa, dividida em partes iguais, que indica tal proporção e é colocada na parte inferior de um mapa ou uma planta.
[…]
(Adaptado de Michaelis, 2025)
Destaque os diferentes tipos de medidas de comprimento e as comparações que foram propostas pela autora. Retome também a conversa que tiveram a respeito de diferentes perspectivas e compartilhe uma curiosidade com a turma a respeito do nosso campo de visão, e que ele pode interferir no que enxergamos e em nossa capacidade de enxergar as coisas.
Para saber mais
“A distância máxima a que uma pessoa consegue enxergar depende do tamanho do objeto a ser observado. Afinal de contas, enxergamos, por exemplo, o Sol, que está a cerca de 150 milhões de quilômetros da Terra. Já quando falamos de objetos pequenos, o alcance de nossa visão não passa de alguns metros” (Vasconcelos, 2024).
Ainda no caso de observar de perto objetos, coisas ou seres muito pequenos – como os citados no livro; por exemplo, os átomos, as moléculas e as bactérias –, isso não seria possível sem a ajuda de instrumentos ópticos.
Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor."
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Escutar, com atenção, apresentações de trabalhos realizadas por colegas, formulando perguntas pertinentes ao tema e solicitando esclarecimentos sempre que necessário.
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Estimar, medir e comparar comprimentos, utilizando unidades de medida não padronizadas e padronizadas mais usuais (metro, centímetro e milímetro) e diversos instrumentos de medida.
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Após a leitura, promova um espaço acolhedor para que os estudantes conversem sobre os impactos que o livro trouxe e os conhecimentos adquiridos. Proponha algumas questões disparadoras, como:
• A história nos leva para alguns caminhos interpretativos. Qual deles chamou mais a atenção de vocês?
• Que trecho fez você pensar mais?
• Que parte do projeto gráfico do livro se destacou mais para você?
• Você já havia refletido a respeito da escala das coisas que o cercam?
• Assim como na arte de Ron Mueck e suas diferentes proporções, você já se sentiu grande ou pequeno diante do mundo ou de algo? Como foi essa experiência e como você se sentiu?
Para saber mais
“No Livro impresso, o projeto gráfico define principalmente o formato do Livro […]
Um bom projeto gráfico editorial é aquele que conduz os olhos dos leitores sem se tornar o elemento principal daquela página. Sem interferir na qualidade da leitura. As imagens, o tamanho das fontes tipográficas, a posição de títulos, retículas, boxes, fios, enfim, todos os elementos visuais devem ser adequadamente pensados e posicionados com o objetivo de atender a uma necessidade editorial” (Oficina de livros, s.d.).
Essas perguntas são algumas sugestões de caminhos que você pode percorrer com a turma após a exploração e leitura do livro. Contudo, sinta a dinâmica construída pelos estudantes e o que fomentou mais espaço de diálogo.
É esperado que os estudantes compartilhem suas interpretações pessoais, que podem estar centradas nos aspectos filosóficos da obra ou nas questões científicas e matemáticas propostas pela autora. Além disso, leve-os a retomar os aspectos gráficos do livro e as escolhas feitas pelo ilustrador, comentando o que mais chamou a atenção de cada um.
Finalize esse espaço de diálogo retomando a relação entre as obras do artista Ron Mueck analisadas antes da leitura e as escalas de proporção vistas na narrativa.
ATIVIDADES
Sinto que sou pequeno ou grande?
Inicie a proposta entregando aos estudantes uma folha de papel sulfite, peça que eles a coloquem sobre a mesa, na vertical, e dobrem essa folha ao meio. Em seguida, diga que em cada uma das metades internas da folha eles deverão escrever um desses comandos no topo superior:
– Sinto que sou pequeno quando…
– Sinto que sou grande quando…
Convide-os a um momento de reflexão silenciosa a respeito dessas duas frases. Você pode pedir que fechem os olhos, colocar alguma música instrumental ao fundo, ficando a seu critério como tranquilizar a turma e conectá-la às reflexões filosóficas propostas. Antecipe que o foco dessa proposta está nas situações que os fizeram se sentir assim, e não na comparação de tamanhos entre coisas, seres ou objetos.
Após esse momento, peça que escrevam em cada metade da folha a situação pensada. Durante o momento de escrita, você pode caminhar pela sala, acompanhando de perto esse processo e fornecendo auxílio individualizado para quem solicitar.
Por fim, faça uma roda e promova um momento de compartilhamento dessas situações. É esperado que as crianças participem ativamente, lendo ou narrando suas situações pessoais; contudo, caso algum estudante não se sinta à vontade para se expor coletivamente, permita que ele participe desse momento apenas como ouvinte. Durante a fala das crianças, acolha sem julgamento e favoreça esse espaço de acolhimento e empatia para todos, reforçando essas premissas com a turma.
O jogo dos pares
No final do livro, somos convidados a criar um jogo de cartas para nos desafiarmos a respeito das perspectivas das coisas que nos cercam. Por isso, nessa proposta convide os estudantes a produzir com você as cartas para esse jogo.
Comece separando os materiais necessários:
Caso queira facilitar a organização dessa produção, já prepare antecipadamente os pares de cartas para cada estudante. Entregue um par de cartas para cada um e depois peça que eles caminhem pela escola e escolham o objeto que será desenhado. Reforce com a turma que as escolhas não podem ser repetidas, pois a ideia do jogo é trabalhar com a adivinhação.
Diga que eles devem observar atentamente o que escolheram e desenhar esse objeto em uma das cartas. Depois, observarão mais uma vez, mas agora com a ajuda de uma lupa, e então selecionarão um detalhe que aparece quando ampliado pela lente. Por fim, devem desenhar apenas esse detalhe.
Após todas as cartas terem sido preparadas, confira uma a uma e plastifique, caso queira que a durabilidade desse material seja maior.
Hora do jogo!
Com as cartas do jogo dos pares prontas, chegou o momento de jogar com a turma. Retome a página do livro que mostra as etapas de como jogar, lendo cada uma delas em voz alta e tirando dúvidas que possam surgir.
Jogue junto com os estudantes e quantas vezes quiserem. O jogo pode ser um recurso fixo da sala de aula e utilizado por eles em outros momentos da rotina.
Depois de jogarem, proponha alguns questionamentos:
• Vocês acharam o jogo fácil ou difícil?
• Que cartas foram mais desafiadoras?
• Será que poderíamos construir uma nova versão desse jogo, mas agora usando fotografias?
A ideia é que os estudantes compartilhem como se sentiram durante o jogo, quais foram as dificuldades e facilidades, além de pensarem em outras formas de brincar de observar perspectivas diversas de uma mesma coisa. Amplie a conversa a partir de questões que surgirem por parte da turma e convide-os a criar o jogo dos pares com a família também, para que possam jogar em casa e quantas vezes quiserem.
Dos estudantes
Amplie o repertório cultural dos estudantes convidando-os a assistir O mundo dos pequeninos, filme de animação japonês de 2010 produzido pelo Studio Ghibli. A história conta sobre a vida da jovem Arrietty, que vive com a família em seu minúsculo mundo abaixo do assoalho de uma casa, fazendo de tudo para manter em segredo a existência de todos. Sobrevivendo como pequenos ladrões, eles conhecem as regras para que nunca sejam percebidos pelos verdadeiros – e grandes – donos da casa. Quando um jovem rapaz se hospeda na casa, a pequenina Arrietty acredita que poderá manter uma amizade com ele, apesar da diferença de tamanhos.
O filme está disponível na Netflix: https://linkja.net/o-mundo-dos-pequeninos-Netflix.
Dos professores
O termo metrologia vem do grego metron, e significa o estudo das medidas e medições. Sua história é antiga e pode ser compartilhada com os estudantes por meio de informações expositivas ou vídeos de curiosidades. Trabalhar com escalas e proporções a partir da leitura do livro pode ser um excelente apoio para a interdisciplinaridade. Saiba mais sobre o assunto por meio de matérias e vídeos como os que estão indicados aqui:
A origem da metrologia.
Disponível em: https://www.medeinstrumentos.com.br/a-origem-da-metrologia/.
Medidas não convencionais – A história das medidas.
Disponível em: https://linkja.net/a-historia-das-medidas-YouTube.
Clique para imprimir o seu roteiro de leitura:
Referências
CONTOS DO REI. Medidas Não Convencionais – A História das Medidas. Contos do Rei, 22 abr. 2021. 1 vídeo (5 min). Disponível em: https://linkja.net/a-historia-das-medidas-YouTube. Acesso em: 15 abr. 2025.
ESCALA. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos, 2025 (adaptado). Disponível em: https://linkja.net/escala-Michaelis. Acesso em: 12 mar. 2025.
MEDE Instrumentos. A origem da metrologia. In: Metrologia, 23 mar. 2018.
Disponível em: https://www.medeinstrumentos.com.br/a-origem-da-metrologia/. Acesso em: 15 abr. 2025.
OFICINA DE LIVROS. Projeto Gráfico. Oficina de livros [s.d.].
Disponível em: https://oficinadelivros.com.br/servicos/projeto-grafico/. Acesso em: 19 mar. 2025.
PINACOTECA. Ron Mueck. Pinacoteca de São Paulo, 2014.
Disponível em: https://pinacoteca.org.br/programacao/exposicoes/ron-mueck/. Acesso em: 12 mar. 2025.
STUDIO GHIBLI. O mundo dos pequeninos. Studio Ghibli, 2010.
Disponível em: https://linkja.net/o-mundo-dos-pequeninos-Netflix. Acesso em: 15 abr. 2025.
VASCONCELOS, Yuri. Até onde a vista alcança? Superinteressante, 22 fev. 2024. Seção Mundo Estranho Saúde. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/ate-onde-a-vista-alcanca. Acesso em: 13 mar. 2025.