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A curadoria como ponto de partida para formar leitores

Em tempos marcados pela velocidade e pela dispersão, sentar-se para ler literatura em sala de aula é um gesto de desaceleração e presença — um ato de resistência. Hoje, entrevistamos Regiane Magalhães Boainain, doutora em Literatura e Crítica literária pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP. Professora de formação, com vinte anos de experiência em sala de aula e atua como editora na Via Lúdica, uma editora especializada em livros infantis e juvenis. 

Nesta entrevista, convidamos à reflexão sobre o papel da curadoria literária, tanto por parte das editoras quanto dos professores, como primeira etapa essencial na formação de leitores, especialmente crianças e jovens. A partir da pergunta central — a literatura ensina? E, se ensina, o que ela ensina? —, buscamos discutir como a leitura literária promove uma aprendizagem sensível, crítica e estética, educando os sentidos e desenvolvendo habilidades como empatia, imaginação e pensamento simbólico. Afinal, o acesso à literatura de qualidade não é fruto do acaso: depende de escolhas conscientes, que começam na seleção das obras e se concretizam na mediação cuidadosa da leitura em sala de aula.

1 – O que significa curadoria literária? 

Curadoria literária é o processo de seleção cuidadosa e criteriosa de obras, considerando a qualidade estética da palavra, da imagem, do projeto gráfico e também o potencial de diálogo da obra com o leitor. No contexto da infância e da juventude, significa escolher livros que provoquem reflexão, encantamento, ampliação de repertório e que respeitem a inteligência e a sensibilidade das crianças e dos jovens. É importante dizer que a ação de selecionar um livro não é simples e, por isso, não pode ser feita de forma apressada ou apenas com base no gosto pessoal. É uma escolha que exige do curador, seja ele editor ou professor, profundo conhecimento sobre literatura, sobre os leitores e sobre o que constitui uma obra de qualidade. O professor e o editor, nesse contexto, precisam ser leitores atentos, pesquisadores da linguagem e estudiosos da infância e/ou juventude. Só assim será possível fazer uma curadoria que, de fato, possibilite um encontro potente entre leitor e literatura. 

2 – Qual é o papel da editora e da escola no processo de curadoria literária?

O papel da editora e da escola é complementar e essencial para garantir o acesso dos estudantes a obras literárias de qualidade, que favoreçam a formação estética, crítica e sensível. A editora atua no início da cadeia, assumindo a responsabilidade de publicar obras que tenham consistência estética, literária e ética. Já o professor atua na mediação consciente e sensível dessas obras, criando situações de leitura que valorizem a literatura como experiência estética, e não apenas como objeto de análise ou decodificação. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta a leitura literária como prática central no desenvolvimento da sensibilidade, da imaginação, da empatia e do pensamento simbólico. Para que isso se concretize na escola, é necessário que tanto editoras quantos professores assumam a curadoria como compromisso com a formação integral do leitor. 

na passarela do mundo
Obra: Na passarela do mundo

3 – Quais critérios são essenciais para selecionar um bom livro para o público infantil e juvenil?

São muitos os critérios que temos que levar em conta. São eles: a qualidade estética da linguagem verbal e visual; a qualidade gráfica e editorial; a arquitetura do texto; a diversidade de gêneros literários; o respeito à inteligência da criança e do jovem e, claro, os temas de interesse desse público. 

4 – A leitura literária pode ser considerada um ato de resistência no mundo contemporâneo? Por quê?

Sim, absolutamente. A leitura literária é, hoje, um ato de resistência. Em tempos marcados pela velocidade, pela dispersão e pelo consumo de conteúdos em fragmentos, como o simples arrastar de dedo nas telas, a literatura exige do leitor algo muito diferente: tempo, atenção, presença, envolvimento e um esforço cognitivo real. O processo de leitura literária convoca o leitor a imaginar o que a palavra suscita, a preencher com sua subjetividade os espaços entre as linhas. Isso dá trabalho. Por isso, o leitor é agente.

E é nesse aspecto que ler literatura é resistir: resistir ao automatismo, à superficialidade, à lógica da pressa. Ler literatura é criar espaço para o humano, para a escuta, para a pausa, para a complexidade. E isso, num mundo que valoriza o instantâneo, é um ato corajoso.

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Obra: Às vezes sou…

5 – Como criar um ambiente propício para que os estudantes realmente se envolvam com a leitura literária?

É preciso garantir um ambiente de liberdade, acolhimento e escuta. O livro deve estar ao alcance da criança como um convite, não como uma obrigação. É fundamental que a leitura não seja apenas uma tarefa, mas uma experiência. Projetos que valorizem a conversa em torno dos livros são essenciais, como clubes de leitura, performances poéticas e rodas de conversa sobre o que foi lido.

6 – A literatura ensina? E, se sim, o que ela ensina que outros textos ou disciplinas não ensinam?

Ensina, sim — mas de maneira diferente. Ela ensina pelo sensível, pelas frestas da linguagem, pelo espanto e pela emoção. Diferentemente de outras disciplinas que priorizam o racional e o objetivo, a literatura desperta aquilo que não se mede: a escuta sensível, a imaginação ativa, a empatia e a retumbância do silêncio. Ela ensina a sentir o mundo com o corpo inteiro. Ensina a lidar com a ambiguidade, com a dúvida, com o que não se explica — e, por isso mesmo, nos move. Ensina o valor do simbólico, da metáfora, do não-dito. A literatura performatiza dentro do leitor, provoca deslocamentos internos, abre espaço para o outro existir em nós. A literatura nos lapida como ser.

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Obra: Eu, Alfonsina

7 – Por que uma literatura exige uma abordagem diferente em sala de aula, em comparação a outros gêneros textuais?

Porque a literatura não tem utilidade prática. Diferentemente dos textos com finalidade prática ou informativa, a literatura não entrega um conteúdo direto: ela abre perguntas, insinua sentidos, convida a olhar com empatia a vida do outro — daqueles seres de papel, de cujas vidas participamos no tempo da leitura. Por isso, sua abordagem em sala de aula precisa respeitar seu próprio tempo: o tempo do sentir, da dúvida, do silêncio e da descoberta. A literatura não busca respostas únicas, mas acolhe múltiplas leituras possíveis, atravessadas pela subjetividade de cada leitor. Ela exige um espaço pedagógico que valorize o sentir tanto quanto o compreender, que permita a performance da palavra no corpo que a vive. “Ensinar literatura” é, sobretudo, criar ambientes de encontro entre o texto e o leitor, entre o leitor e ele mesmo, entre o que está aqui e o que ecoa. Não se trata de decifrar um código, mas de experimentar uma presença. Por isso, a literatura não se ensina como se ensina um conteúdo, ela se vivencia, se compartilha, se reinventa a cada leitura.

8 – Como você enxerga a importância do campo artístico-literário na BNCC?

Vejo como um avanço importante e necessário. A BNCC, ao definir o campo artístico-literário como um dos eixos estruturantes do componente de Língua Portuguesa, admite que a literatura é um saber específico, com seus próprios objetos de conhecimento e modos de abordagem. Não se trata de usar a literatura apenas como pretexto para ensinar gramática ou interpretação, mas de compreendê-la como experiência estética, simbólica e subjetiva. A BNCC valoriza a vivência com textos ficcionais e poéticos, desde a Educação Infantil, e destaca práticas como leitura compartilhada, leitura em voz alta, recontos, performances e rodas de conversa, reconhecendo a centralidade do prazer estético e da pluralidade de sentidos. Ao trazer a literatura como campo próprio, a BNCC afirma que ela não se mede por exatidão, que não se resume à compreensão literal, mas convida à experiência, à escuta do outro e à ampliação da sensibilidade. Ela ensina a imaginar, a estranhar, a sentir — e isso exige metodologias que respeitem essa natureza. Portanto, a presença do campo artístico-literário na BNCC representa um gesto político e pedagógico: legitima a literatura como um direito de todos os estudantes e como uma forma singular de conhecer o mundo — pela linguagem, pela emoção e pela arte.

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Obra: Tito na Amazônia

9 – Você defende que “o gosto é ensinado”. Como isso acontece na prática?

Sim, defendo. O gosto não nasce pronto. Ele é cultivado, alimentado, refinado com o tempo. Na prática, isso acontece por meio do contato frequente com bons livros e, principalmente, pela mediação sensível e intencional de quem lê com, para e junto da criança. É no convívio com a linguagem literária, com os silêncios, com a ambiguidade e com o belo que o leitor se forma. Aos poucos, ao experimentar diferentes gêneros, estilos e vozes, a criança se nutre da multiplicidade, expande sua compreensão acerca da literatura e, gradativamente, vai buscando leituras mais desafiadoras. Esse processo exige tempo e continuidade. O gosto se desenvolve quando o repertório do leitor é ampliado por obras que provocam, deslocam, encantam ou inquietam. E cresce ainda mais quando há espaço para a comparação, a conversa, a escuta do outro leitor. Ensinar o gosto é, portanto, oferecer possibilidades, é confiar que, com as leituras certas, no tempo certo, e com a escuta atenta de um mediador, a criança se tornará não apenas leitora, mas leitora de si, do outro e do mundo.

10 – De que forma as editoras e as escolas podem trabalhar juntas na construção de um projeto de leitura consistente?

Com diálogo, formação e escuta. As editoras podem contribuir oferecendo acervos complementares, promovendo encontros com autores, apoiando a escolha de livros e compreendendo o contexto das escolas. Já as instituições de ensino, ao procurarem editores que façam um trabalho sério e comprometido com a qualidade estético-literária, podem apresentar suas demandas, seus projetos e suas realidades. Juntas, podem construir percursos de leitura que façam sentido para seus estudantes. Mas esse trabalho não termina na escolha do livro. Ele se realiza plenamente em sala de aula, quando o professor, como mediador sensível, garante que a essência do literário não se perca. Isso acontece quando há escuta atenta, conversa verdadeira em torno dos livros e respeito ao tempo do leitor.

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Obra: Irene Ri

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Por Regiane Boainain, Doutora em Literatura e Crítica literária
Editora Via Lúdica

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